Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Talvez no futuro

Quem sabe? Mas não agora

 

    O autor, autoritário, corrigiu-me: não queria escrever «semi-industrial», mas «semindustrial». Bem, pode ser um vislumbre do futuro. Rebelo Gonçalves regista no seu Vocabulário da Língua Portuguesa a variante «água-ardente» e, como se sabe, acabou por vingar «aguardente», porque, afinal, são as formas simplificadas que acabam por triunfar historicamente.

 

[Texto 5608]

Léxico: «mondegreen»

Podia ser fífia

 

      É Henrique Autran Dourado, na Pequena Estória da Música, quem conta que na récita de I Puritani, em 1949, Maria Callas iniciou a ária Son vergin vezzosa (sou virgem graciosa) com um sonoro son vergin viziosa (sou virgem viciosa). No entanto, o termo mondegreen não nasceu aqui, porque aqui não há relva, mas mais tarde: uma jornalista californiana, nos anos 50, percebeu, numa canção, «Lady Mondegreen», quando o que tinha sido cantado era «Laid him on the green». E assim nasceu o neologismo que hoje todos os dicionários de inglês registam. Agora que o Spotify passou a integrar o serviço Musixmatch, o maior catálogo de letras do mundo, nem aos amadores isto volta a suceder. E como é que isto se diz em português? Não diz. Ou podemos usar o termo fífia, se lhe estendermos o sentido.

 

[Texto 5607]

Léxico: «hacktivismo»

Agora vão ser presentes...

 

      «Esta manhã, a Polícia Judiciária esteve no terreno a desenvolver uma larga operação de combate à criminalidade informática e tecnológica, designadamente ao crime que é conhecido por hacktivismo» (Patrícia Cerdeira, noticiário da 1 da tarde, Antena 1, 26.02.2015).

      Ainda vai passar para os manuais e mesmo para o Código Penal. E agora? Bem, os «detidos vão ser agora presentes a primeiro interrogatório para aplicação das medidas de coacção».

 

[Texto 5606]

Léxico: «dupla conforme»

Os juízes decidem

 

      «Os juízes desembargadores do Tribunal da Relação de Lisboa Nuno Coelho, Teresa Féria e Margarida Conceição Gomes mantiveram na íntegra a decisão dos seus colegas da primeira instância, tornando assim impossível o recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, uma vez que se verifica a chamada “dupla conforme” — duas sentenças sobre o mesmo caso que vão no mesmo sentido» («Tribunal da Relação mantém condenação de Jardim Gonçalves», Ana Henriques, Público, 26.02.2015, p. 23).

 

[Texto 5605]

Portugueses não sabem ler

Não apenas rótulos

 

      «“Consideramos que as pessoas, e mesmo os profissionais de saúde, têm dificuldade em saber os valores de sal recomendados, e embora digam que sabem ler rótulos, não é bem assim. Não queremos uma atitude persecutória, até porque ao contrário do tabagismo o consumo excessivo de sal não prejudica a pessoa ao lado, mas com uma rotulagem simples e intuitiva queremos dar às pessoas a oportunidade de saberem o que estão a comprar”, explica Fernando Pinto [presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão], reforçando que com uma medida destas “o mercado reagiria e iria reduzir naturalmente o sal que adiciona aos produtos”» («21% da população portuguesa não sabe que tem hipertensão», Romana Borja-Santos, Público, 26.02.2015, p. 21).

 

[Texto 5604]

Sobre «condolências»

Doer-se com

 

      «A PSP prestou condolências às famílias das vítimas e homenageou os agentes» («Polícias colhidos pelo comboio tinham menos de trinta anos», Joana Machado, Telejornal, 25.02.2015). É muito mais frequente com o verbo «apresentar», apresentar condolências. Na homenagem, o superintendente Jorge Maurício, comandante da PSP, falou na «família policial», expressão que eu nunca antes ouvira ou lera; «família militar», sim, usa-se com alguma frequência. O início da homenagem parece copiado de qualquer filme norte-americano: «Os nossos pensamentos e orações estão com a família policial, etc.»

 

[Texto 5603]