Vai continuar
Tem razão o leitor Gonçalo Esteves: anda por aí uma lamentável trapalhada com o nome das enzimas. As enzimas são denominadas de acordo com o substrato ao qual se ligam ou a reacção química que catalisam, com o acrescento do sufixo grego -ase. Muito simples, isto, apenas baralhado porque há enzimas com nomes mais empíricos e que fogem àquela regra, como emulsina, pepsina, ptialina, renina, tripsina, etc. Posteriormente, uma comissão da União Internacional de Bioquímica e Biologia Molecular veio estabelecer uma forma racional de identificar as enzimas, com um código numérico, quatro algarismos separados por pontos.
Agora, a parte propriamente linguística: todos estes nomes deviam ser proparoxítonos, esdrúxulos: amílase, cítase, diástase, lípase, máltase, polimérase, etc. Deviam porque o modelo é «diástase», que é proparoxítona em virtude da quantidade do sufixo -asis em grego e em latim. Contudo, todos os nomes das enzimas que se seguiram não existiam nem no grego nem no latim, foram inventados, pelo que, numa língua como a nossa, em que a tendência é para a tonicidade da penúltima sílaba, será forçar demasiado as coisas impô-los como proparoxítonos. Dantes, afirmava-se, como se isso esclarecesse toda a questão, que em Coimbra se dizia de uma maneira e em Lisboa de outra. É o que vai continuar a acontecer, até os dicionários registarem apenas a forma preferida — e a lei do menor esforço entra na equação e de que maneira — dos falantes, que é a paroxítona. Uma reforma ortográfica a sério tem necessariamente de sistematizar estes nomes.
[Texto 5703]