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Linguagista

«Altifalante/alto-falante»

Grande acrescento

 

      Os passageiros, diz-nos o autor, foram avisados pelo «autofalante» do avião. Há duas variantes correctas — altifalante e alto-falante —, mas tinha logo de inventar uma terceira, errada. É isso: autor, etimologicamente, é o que acrescenta. Cá está o acrescento.

 

[Texto 5633]

Já ninguém a usa

Não será exagero?

 

     Parece, descobri agora, que já ninguém (mas ninguém mesmo, Pedro?) diz ventosa (ou ventusa), mas sim desentupidor. Bem, não faz mal, vinha directamente do francês ventouse e afinal — é a grande lição — não precisávamos dela.

 

[Texto 5632]

Um «eventualmente» que o não é

Como se fosse (mal) traduzido

 

      «Tive perto de dez anos de jornal, centenas de quilos de papel, mais de três mil exemplares, guardados entre o sótão da casa de Portalegre e um armazém a cair de velho na nossa quinta. Até, eventualmente, eles serem comidos pelos ratos e pela humidade, e o meu pai ter decidido pôr um ponto final naquela loucura, livrando-se dos restos do espólio. Ainda estou para lhe perdoar esse gesto de elementar bom senso» («Eu, o MEC e o PÚBLICO 25 anos depois», João Miguel Tavares, Público, 5.03.2015, p. 109).

   Este não é, na verdade, um «finalmente»? «Eventualmente» é sinónimo de «casualmente», isto é, «por acaso». Não é assim que os ratos fazem: é tudo a eito. Se fosse uma tradução, dava-se o desconto, mas assim, nem pensar.

 

[Texto 5631]

«Espaciotemporal/espaçotemporal»

Duplo, não triplo

 

      «Por outro lado, é conhecido que “alguns tipos de memória” entram em declínio — menos a “memória semântica” (vocabulário e factos sem referência espacio-temporal) e mais a chamada “memória episódica” (com referência ao espaço e ao tempo). Há várias explicações, nomeadamente de índole neurobiológica: dificuldades de atenção, de velocidade de processamento de informação; problemas de visão e audição, que têm implicações no desempenho mnésico; patologias» («Que memórias se guardam quando se tem mais de 100 anos?», Andreia Sanches, Público, 5.03.2015, p. 63).

      Não: espaciotemporal. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista apenas espaçotemporal. Contudo, em mais uma das muitas incongruências, o Dicionário de Português-Inglês da mesma editora regista «espaciotemporal». Ai, essa memória semântica...

 

[Texto 5630]

Marmoto? Castanheiro

Mais uma para a antologia

 

      «A 11 de Março de 2011, um terramoto seguido de marmoto suspende o mundo. A catástrofe natural provoca um inédito acidente na Central Nuclear de Fukushima, no Japão, que sofreu danos em três dos seis reactores. A dimensão da catástrofe foi imensa e tornou Fukushima comparável ao acidente 
nuclear de Tchernobil, na União Soviética, em Abril de 1986. As consequências da contaminação radioactiva na zona deverão fazer-se sentir por décadas.
 A questão da segurança das centrais nucleares voltou a colocar-se. De tal forma que
 o Governo alemão decidiu fechar a prazo as que existem na Alemanha» («Acidente de Fukushima», S. J. A., Público, 5.03.2015, p. 47).

   Também existe, sim: é, lê-se nos dicionários, o nome vulgar do castanheiro subespontâneo. Não é, ao contrário do que o jornalista crê, variante de «maremoto», que veio directamente do latim. É lamentável, e logo na edição comemorativa dos 25 anos do Público.

 

[Texto 5629]