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Linguagista

«Anteriormente»: há melhor

Fica a saber hoje

 

      E a propósito de Siri: a coisa mais útil que aprendi nos últimos tempos sobre o iPad foi como activar o assistive touch (definições > geral > acessibilidade > assistive touch). Deixa-se de ter de usar os botões físicos. Ah, sim ainda estamos no Linguagista. Aqui estoutro autor (este sem aspas) tem de saber que, ainda que «anteriormente» signifique «em tempo anterior; precedentemente; antes», há formas mais económicas e elegantes de dizer o mesmo.

 

[Texto 5648]

«Sob/sobre»: a confusão continua

Talvez pós-graduado

 

      Vamos fazer como Montexto: há autores e «autores». Este merece aspas, pois escreveu: «Trabalhávamos sobre a sua direcção há vários anos e só o víamos nas festas de Natal da empresa.» Parece-me que a Siri é mais inteligente. Disse-lhe agora mesmo para lançar uma moeda ao ar e ela respondeu: «Ha salido cruz... ¡y raya!»

  

[Texto 5647]

Topónimo: Filas

Isso é que não percebo

 

      Sabem o que é um nilómetro? Bem me parecia. É uma espécie de poço, graduado nas paredes, destinado a medir a altura das águas do rio Nilo. Agora vejam o que se lê na Infopédia, depois da descrição: «Sobreviveram alguns nilómetros, a maioria associados a templos, como Philae, Edfu, Esna, Kom Ombo e Dendera mas o maior (90 degraus) dos remanescentes está na ilha Elefantina, em Assuão, reconstruído durante a dominação romana (a partir de meados do século I a. C.), mantendo-se bem preservado.» Como é que, pergunto a mim próprio, um topónimo egípcio nos aparece nas roupagens de um latinismo puro e duro como Philae? Em grego era Φιλαί, e, claro, foi transcrito para latim como Philae, e em português só podia ser Filas — que é como Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, o regista: «Filas2, top.: ilha nilótica» (p. 459). Como é que os dicionaristas não sabem isto? Pior: para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, já não é uma espécie de poço, mas uma «coluna de mármore, usada desde o tempo dos faraós, para medir as cheias do Nilo». Em que ficamos, afinal?

 

[Texto 5646]

Ouriços e a Ericeira

Endógeno ou exótico?

 

      «Foi quando, há pouco mais de um ano, organizou, em torno do ouriço-do-mar, um jantar do Endògenos — projecto de valorização de produtos portugueses que estão esquecidos ou pouco aproveitados — que Nuno Nobre, da consultora Nuno Nobre e Associados, achou que era possível fazer mais por este produto que está na origem do nome Ericeira (Ouriceira) e que praticamente não se encontra nos restaurantes locais. “Falei com a câmara, disse que gostava de tornar o ouriço cada vez mais um ícone da terra e apresentei a ideia do festival”, conta ao PÚBLICO» («Ericeira quer mais ouriços-do-mar à mesa dos restaurantes», Alexandra Prado Coelho, Público, 9.03.2015, p. 4).

      E aquele «Endògenos»? Para quê o acento grave? Ah, sim, escrito dessa forma não passa sem reparo. Mais um festival... Em crónica já deste ano, Vasco Pulido Valente escrevia: «Os “festivais” da carne, da fruta, do queijo, do enchido, do mexilhão, do doce regional ou nacional, da primeira coisa que dê para armar a tenda e ganhar uns tostões.» E sobre restaurantes: «A obsessão incrível e paradoxal com restaurantes, que abrem às centenas (apesar do 
IVA) e que se pretendem sempre pioneiros de uma especial cozinha ou de uma extraordinária ideia; e que têm na cave vinhos sem igual. Quem lá vai? A classe média que se destruiu, os banqueiros que faliram, os corruptos mascarados que esperam a sua hora?» Mas isto é conversa de quem está farto e cheio. Quantas vezes, a propósito e a despropósito, referiu os almoços no Gambrinus? Ah, essa é que é essa.

 

[Texto 5645]