Endógeno ou exótico?
«Foi quando, há pouco mais de um ano, organizou, em torno do ouriço-do-mar, um jantar do Endògenos — projecto de valorização de produtos portugueses que estão esquecidos ou pouco aproveitados — que Nuno Nobre, da consultora Nuno Nobre e Associados, achou que era possível fazer mais por este produto que está na origem do nome Ericeira (Ouriceira) e que praticamente não se encontra nos restaurantes locais. “Falei com a câmara, disse que gostava de tornar o ouriço cada vez mais um ícone da terra e apresentei a ideia do festival”, conta ao PÚBLICO» («Ericeira quer mais ouriços-do-mar à mesa dos restaurantes», Alexandra Prado Coelho, Público, 9.03.2015, p. 4).
E aquele «Endògenos»? Para quê o acento grave? Ah, sim, escrito dessa forma não passa sem reparo. Mais um festival... Em crónica já deste ano, Vasco Pulido Valente escrevia: «Os “festivais” da carne, da fruta, do queijo, do enchido, do mexilhão, do doce regional ou nacional, da primeira coisa que dê para armar a tenda e ganhar uns tostões.» E sobre restaurantes: «A obsessão incrível e paradoxal com restaurantes, que abrem às centenas (apesar do
IVA) e que se pretendem sempre pioneiros de uma especial cozinha ou de uma extraordinária ideia; e que têm na cave vinhos sem igual. Quem lá vai? A classe média que se destruiu, os banqueiros que faliram, os corruptos mascarados que esperam a sua hora?» Mas isto é conversa de quem está farto e cheio. Quantas vezes, a propósito e a despropósito, referiu os almoços no Gambrinus? Ah, essa é que é essa.
[Texto 5645]