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Linguagista

E a melhor é...

A mais portuguesa

 

      O indígena gosta muito de dizer e escrever que qualquer coisa «é fifty-fifty». Alguns, porém, mais atilados, usam a expressão «metade-metade». Hoje, encontrei outra mais colada ao inglês (mas, ainda assim, português): «cinquenta-cinquenta». Há uma expressão, vagamente relacionada com esta, de que gosto muito: ela por ela.

 

[Texto 5659]

Sobre o «habeas corpus»

Cada cabeça, seu erro

 

      «O futuro de José Sócrates é decidido na próxima segunda-feira, altura em que o Supremo Tribunal de Justiça divulgará a decisão sobre o habeas corpus interposto pela defesa do ex-primeiro-ministro» («Penalista Costa Andrade duvida que José Sócrates seja libertado», André Castro Ribeiro, Telejornal, 14.03.2015). O habeas corpus é um verdadeiro recurso ou uma providência extraordinária? E, assim, qual é o verbo tecnicamente adequado? Não será, em vez de «interpor», o verbo «pedir»? No Brasil, ao que me parece, usam o verbo «impetrar». E a propósito de verbos inadequados, eis o verbo de Costa Andrade: «Para mim, as coisas são unívocas: ninguém persiste primeiro-ministro para além de primeiro-ministro, como ninguém persiste presidente da República para além de presidente da República.»

 

[Texto 5658]

«Visita de surpresa»

Se fosse mesmo necessário...

 

      A meio da semana, «a namorada fez-lhe uma visita surpresa». Detesto (meu Deus, como detesto!) esta forma de escrever. Ainda se não houvesse alternativa, mas não: «Pontualmente a quinze de Setembro os primos vêm à quinta fazer a sua visita de surpresa anual. Nunca se sabe se virão ou não virão, nem se sabe em que dia chegarão ao certo, e portanto é sempre uma surpresa quando eles aparecem» (Cláudio e Constantino, Luísa Costa Gomes. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2014).

 

[Texto 5657]

Léxico: «gargaliar/gola/lobagueira»

No dialecto barrosão

 

      «No meio dos bosques de pinhal, aveleiras e carvalhos primitivos da serra do Larouco, onde resiste uma das cerca de 60 alcateias existentes em Portugal, Jaime chegou a ver sete lobos “reais” juntos. A última vez foi há dois anos e “era um animal mesmo lindo”. “Ainda não foi há muitos dias que ouvi gargaliar [um coro de uivos, em dialecto barrosão], vinha ali daquele altinho”, e aponta para a montanha […] Um dos tesouros é a gola do lobo, um pedaço da traqueia do animal, que lhe era retirada depois de morto e fumada. Para manter a cartilagem intacta, Glória guarda-a com um pau de madeira enfiado no interior, cortado à medida. Segundo uma tradição secular, a gola era utilizada para curar o “mau ar do lobo”, ou lobagueira, doença que só afecta os porcos. O mal pode ser transmitido pelos cães ou outros animais que tenham contacto com a saliva ou excrementos do lobo e depois bebam água nas pias dos suínos» («Histórias de guerra e paz com magia dentro. Lobos», Marisa Soares, Público, 15.03.2015, p. 22).

 

[Texto 5656]