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Linguagista

«Comunista», outra acepção

Não é um peditório

 

      «Embore se use o termo bacalhoeiro para estes navios, as frotas de pesca longínqua dedicam-se hoje a muitas outras espécies. O cantarilho do Norte, na gíria designado por “comunista”, é a espécie mais pescada apesar do seu baixo valor comercial. A palmeta tem mais valor, mas tem quotas mais restritas. Nos “quetes” do navio, César faz a separação do bacalhau, ao qual será depois aplicada a técnica do “trote”» («Em mares bravios», Pepe Brix, National Geographic, Fevereiro de 2015, p. 29).

      Será o redfish de má memória das cantinas universitárias? «Redfish no forno c/ batata cozida». Comunista parece-me perfeito. E será mesmo o nome na gíria? Aqui diz-se que é o nome vulgar. E não sei para que servem tantas aspas, caramba. De quete, que para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é somente o peditório (do francês quête, e por isso já tenho lido aquele «quete» escrito desta forma), lê-se na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira: «Nalgumas embarcações de pesca do alto, especialmente nos bacalhoeiros, quete é o compartimento montado no convés, para a separação do peixe (do ingl. catch)» (vol. XL, apêndice, p. 401). Na tradução de António Sérgio de Lobos do Mar, de Rudyard Kipling, explica-se o que é um quete.

 

[Texto 5682]

«Corretor/corrector»

Pois é

 

      Imagino que nunca confundam corredor com corrector: «Hoy, los artistas plásticos tienen el pulcro aspecto de profesionales de Bolsa o el glamur de estrellas del espectáculo: Jeff Koons ha sido corredor bursátil» («Jack el Destripador acecha a sus víctimas», Santiago Roncagliolo, El País Semanal, 22.03.2015, p. 8). Cá, é como se sabe. O novo acordo ortográfico veio amalgamar tudo, mas, na oralidade, a confusão e a ignorância prosseguem a sua gloriosa carreira, como vimos aqui. E estão ali a ver glamur, estão? Cá, escrevem «glamour» e «glamoroso».

 

[Texto 5681]

Ortografia: «Tunes»

E há os empatas

 

      Claro que depois também aparecem estes empatas desinformados: «O leitor Mário Rodrigues entende que o PÚBLICO utiliza a denominação [sic] Tunes quando lhe parece que deve ser Túnis. Consultei o Livro de Estilo do PÚBLICO,
 o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e o Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa de Magnus Bergström e Neves Reis (42.ª edição da Editorial Notícias, 2002), e todos designam Tunes como capital da Tunísia» («Tunes ou Túnis», José Manuel Paquete de Oliveira, Público, 22.03.2015, p. 57).

      Isso mesmo. Se há quem afirme que são ambos admissíveis, ninguém diz que Túnis (e Tunis, como também se vê) é melhor que Tunes. Pelo contrário, este último é, para muitos e bons estudiosos, o único admissível.

 

[Texto 5680] 

«Bipartidismo/bipartidarismo»

Temos, mas não sabem

 

      «Anunciado fim do bipartidarismo espanhol vai pela primeira vez a votos» (Sofia Lorena, Público, 22.03.2015, p. 4).

      Não é mais fácil escrever e proferir «bipartidismo»? É, mas terão o mesmo significado? Para alguns dicionários, sim; para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, não. Para este, bipartidarismo é o «sistema que se caracteriza pela relevância de dois partidos» (definição quase coincidente com o de bipartidismo no dicionário da Real Academia Espanhola: «sistema político con predominio de dos partidos que compiten por el poder o se turnan en él»); bipartidismo, por sua vez, é a «forma de governo caracterizada pela associação de dois partidos». Em suma, para este dicionário, não apenas são dois conceitos diversos, como não estão necessariamente relacionados.

      E na imprensa? «Iglesias e Teresa Rodriguez,
 a professora de 33 anos que é a candidata do Podemos para governar a Andaluzia, lembram estas histórias mas acrescentam o sorriso e o entusiasmo do presente. Eles querem ser um terramoto que termine [sic] o bipartidismo e que crie um formato novo numa política esgotada» («Ilusão e medo cruzam-se na Andaluzia», Francisco Louçã, Público, 19.03.2015, p. 50). É o conceito do dicionário da Real Academia Espanhola. Agora um exemplo curioso: «O fim do “bipartidismo” emergiu como um dos temas favoritos no debate entre politólogos, jornalistas e políticos. A Espanha tem um sistema bipartidário. Desaparecida a União de Centro Democrático (UCD), de Adolfo Suárez, hegemómica [sic] na primeira fase da Transição (1977-82), dois partidos afirmaram-se como dominantes: o PSOE e o PP. Há alternância mas não há coligações. Quando não há maioria absoluta, o partido vencedor faz acordos de apoio parlamentar. É este modelo que está ameaçado» («A rebelião contra o bipartidarismo», Jorge Almeida Fernandes, Público, 8.11.2013, p. 31). O que pretende significar (repare-se no título) Jorge Almeida Fernandes com as aspas? Que «bipartidismo» é coisa dos Espanhóis? Ou será antes como quem deseja (mas estaria enganado, claro) que em português também houvesse a mesma distinção? E na mesma página do artigo de Jorge Almeida Fernandes, está estoutro: «Um eleitorado que confia cada vez menos nos 
dois grandes partidos espanhóis, o PSOE e o PP, pode levar a uma mudança assinalável no sistema político do país. A Esquerda Unida
 (IU) e o União, Progresso e Democracia (UPyD) são os mais fortes candidatos a romper o bipartidarismo característico de Espanha, um dos poucos países da Europa Ocidental que nunca foi governado por uma coligação» («Próximo Governo pode ser a dois», João Ruela Ribeiro, Público, 8.11.2013, p. 31).

 

[Texto 5679]