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Linguagista

O AOLP90 explicado aos patos

Gente medíocre

 

      É óbvio que o ponto de ironia faz falta, e de que maneira, pelo menos para quem (mesmo que seja autor de gramáticas) não entende à primeira. Acusaram-me de defender que, segundo o Acordo Ortográfico de 1990, é «pato com o Diabo» que se escreve. Isto é má-fé e estupidez. Não ponho aqui o nome da criatura porque não faço publicidade a gente medíocre. Ficará com essa espinha. O que eu afirmei já diversas vezes, e volto a afirmar, é que, independentemente dos defeitos do acordo, que são muitos e já salientei alguns, a maioria dos falantes não o sabe aplicar. E que falantes? Alguns, infelizmente muitos, professores (colegas, decerto, da criatura), jornalistas, tradutores, entre outros, supostamente qualificados. Os exemplos de estarrecer pululam por aí, mas eu lembro-me sempre daquela professora, com vinte anos de ensino, que, numa acção de formação sobre o novo acordo ortográfico, escreveu que já estava a ensinar a nova grafia, os novos vocábulos aos seus alunos, «adatando-os».

 

[Texto 5694]

«Faits-divers»

Outra invariável?

 

      «No geral, porque existem excepções, as mulheres 
são relegadas para os faits-divers ou para notícias que as vitimizam, enquanto os homens se apresentam como especialistas ou autoridades» («Saltos em frente», Manuel Dias Coelho, Público, 11.03.2015, p. 46).

      Estão a ver bem (não andam nada chochos...): o artigo já tem duas semanas, mas isso não interessa. Não está correcto, aquele plural, «os faits-divers»? Está, que o confirmei. Ora, estou sempre a vê-lo mal escrito. Culpados? Vários. Para o Vocabulário Ortográfico Português do ILTEC, por exemplo, é invariável... Faits-divers (por vezes, sem hífen) é a secção do jornal em que aparecem notícias que não cabem nas secções especializadas de política, economia, desporto, etc.; cada uma dessas notícias só pode ser, acho eu, um fait-divers.

 

[Texto 5693]

«Deu-lhe uma bava.»

Memória selectiva

 

      «“Deu-lhe uma bava.” A expressão pode ainda não concorrer para o pódio das novas palavras, aquelas que determinado ano acrescenta ao nosso léxico, mas já tem seguidores. Uma “bava” é, depois da audição de Zeinal Bava, na comissão de inquérito à gestão do BES, um esquecimento útil. Uma espécie de abençoada falta de memória. Afinal, o ex-CEO da PT fez questão de repetir a mesma expressão – “Não guardo na memória” – demasiadas vezes para o gosto dos deputados que qualificaram como “frustrante” a sua prestação» («As “bavas”, os álibis e as dívidas ou o que fica do inquérito ao BES», Cristina Ferreira e Paulo Pena, Público, 28.03.2015, p. 20).

 

[Texto 5692]