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Linguagista

«Alpha, Bravo, Charlie, Delta...»

Nunca me perguntaram

 

      «O comandante operacional nacional adianta que a época mais crítica de incêndios florestais, que decorre entre 1 de Julho e 30 de Setembro – a chamada fase Charlie –, vai este ano contar com mais 17 equipas de combate a incêndios florestais, num total de 2234 grupos terrestres, que integram 9721 elementos» («Perto de 5300 operacionais com treino para ajudar 
no combate aos fogos», Mariana Oliveira, Público, 31.03.2015, p. 7).

    Sabem o nome das quatro fases? Alfa, Bravo, Charlie e Delta. Qual a origem? É o nome das primeiras letras do alfabeto internacional da NATO (seja: da OTAN).

 

[Texto 5712]

Léxico: «einstêinio, einstéinio e einsténio»

Quase impronunciável

 

     Cinco, horizontais: «Einstêinio (s.q.).» Palavras cruzadas da edição de ontem do Público. Este, na realidade, é triplo: einstêinio, einstéinio e einsténio. Ah, sim: o símbolo é Es. (Agora vemos como num espelho, obscuramente... Videmus nunc speculum in aenigmate... Não, não é nada disto que eu queria dizer. Já viram o Google em espelho? Aqui.)

 

[Texto 5711]

Léxico: «entressono»

Coragem, homem!

 

     O poeta Mário de Andrade pôde escrever «Minha cabeça pousa nos seus joelhos,/Vem o entressono, e é milagroso!» O meu autor, porque não encontrou a palavra nos nossos dicionários, não a usa. Já se fosse «entressonho»...

 

[Texto 5710]

Sobre o gerúndio

Aprender com os vizinhos

 

      A Fundéu veio agora divulgar os «“10 bulos lingüísticos que conviene desterrar” o “no te fíes de todo lo que lees por ahí”» e um deles, mas vale a pena ler os restantes, é este: «El gerundio es peligroso. En muchos manuales de redacción se pueden leer recomendaciones tales como que el gerundio es un tiempo complicado de utilizar y que, para evitar confusiones, lo mejor es prescindir de él. El gerundio no es, per se, un tiempo difícil ni incorrecto, pero sí hay que prestar atención a los llamados gerundios de posterioridad: en frases como “Estudió en Madrid, yendo después a Buenos Aires” la acción que expresa el gerundio es posterior a la que expresa el verbo principal y sin conexión directa, lo que es inadecuado. Sin embargo, cuanto más simultáneas son las dos acciones nombradas, más apropiado es el uso del gerundio: “La lanzó contra la pared, haciéndola añicos”; en este tipo de frases a veces también se puede apreciar un sentido causal, consecutivo o concesivo.»

 

[Texto 5709]

Léxico: «hebiatria»

Filha de Zeus e Hera

 

      Tem 11 anos, está a deixar a infância, e por isso o médico pediatra que a segue vai ser substituído pelo médico... pelo médico... Geriatra não é. Hebiatra. Mas isso é no Brasil, e porventura pouco divulgado, porque em Portugal o termo não é usado. E não são apenas os médicos que o desconhecem: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o regista.

 

[Texto 5708]

Regência verbal: «propor-se»

É só cortar

 

    «O gestor», recomenda o autor, «deve definir objectivos precisos e propor-se a alcançá-los.» Francisco Fernandes, no Dicionário de Verbos e Regimes (São Paulo: Editora Globo, 36. ed.ª, 1989, p. 481), lembra que a «forma propor-se a fazer alguma coisa é condenada por muitos puristas, que mandam que se escreva propor-se fazer alguma coisa (infinito não preposicionado)». Aqui é que se aplica com toda a propriedade o aforismo de Torga e de Drummond de Andrade: escrever é cortar palavras.

 

[Texto 5707]

Nomenclatura das vitaminas

Incapazes de olhar para o todo

 

      Outra trapalhada lamentável: o nome das vitaminas, em que, segundo recomendações da União Internacional de Química Pura Aplicada, o numeral deve ser grafado em índice — vitamina D3, vitamina K2, vitamina B5 ­­—, tanto se vê, no mesmo texto, grafado assim, como vitamina D3, vitamina K2, vitamina B5…

 

[Texto 5706]

Ensino do Latim

Perdemos todos

 

      «Em 1996, cerca de 13 mil alunos fizeram o exame de 12.º ano de Latim. Em 2014, foram 114 os alunos que se apresentaram a exame — que agora se realiza no final do 11.º ano. O que se passou entretanto? Nos últimos 15 anos, o latim foi desaparecendo das escolas do país. Na região de Lisboa, por exemplo, um aluno do secundário que queira estudar Latim tem poucas opções. “Já há alguns anos que as pessoas sabem que Latim é no Camões”, diz Mário Paulo Martins, um dos dois professores que leccionam este ano lectivo a disciplina nesta escola» («Latim: a remar contra a maré», Catarina Espírito Santo, Público, 1.04.2015, p. 12).

      O latim voltou a ser, graças à inépcia de quem nos governa, um conhecimento só ao alcance de uns quantos. No privado, como ficámos a saber por este trabalho do Público, não param: «Algumas escolas privadas, como o Colégio de São Tomás, em Lisboa, ou o Rainha Santa Isabel, em Coimbra, introduziram já há vários anos o Latim e a Cultura Clássica a partir do 5.º ano. Outras há que tinham essa tradição, mas perderam o ensino do Latim, como o Colégio de S. João de Brito ou os Maristas. Susana Marta Pereira é professora na St. Peter’s School, em Palmela, onde o Latim foi recentemente tornado disciplina obrigatória, para já do 5.º ao 7.º ano.»

      O Ministério da Educação, ficámos também a saber, está a estudar, sabe Deus durante quantos anos, o reforço do ensino do Latim e da Cultura Clássica no ensino básico e secundário. Uma das medidas tem de ser não apenas permitir, mas até incentivar que os alunos da área de ciências e tecnologias do ensino secundário possam aprender Latim. Entretanto, já passaram quatro anos desde que a UNESCO recomendou aos países com línguas de origem latina que ensinem o Latim nas escolas. Estamos à espera de quê?

 

[Texto 5705]