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Linguagista

Ortografia: «beringela»

É meio caminho para se usar

 

    Nunca houve cá hesitações na grafia da palavra «beringela». No Brasil, sim, porque, ainda que alguns autores afirmem que esta é a grafia mais correcta, usam também «berinjela». O Acordo Ortográfico de 1990 nem estas simples divergências ortográficas soube resolver. Agora, vejo que o Vocabulário Ortográfico da Porto Editora regista «berinjela». Em vez de importarem soluções, importam problemas.

 

[Texto 5718]

«Alto e bom som»

Fica mais leve

 

      «Esfolava os joelhos nos carrinhos de rolamentos a descer avenidas em Portalegre. Punha o gira-discos na varanda com os Pink Floyd em alto e bom som» («“A minha mãe chorou, achava que eu ia ser artista de cabaré”», Vanda Marques, Sábado, 26.03.2015, p. 69).

      Influenciados, provavelmente, pelo significado da expressão, muitos falantes julgam que é obrigatório ser antecedida da preposição em. Não é. No meu caso, e já que é opcional, nunca a uso com preposição.

 

[Texto 5717]

«Trás/traz»

Não está só

 

    «Kátia Aveiro também já tem um blogue... onde partilha os seus momentos importantes: “Terminei cozinhando, para todos nós, um frango assado no forno com batatas assadas, feijão verde e cenoura temperados com alguns pequenos grandes segredos que só eu conheço...” Convém é começar a dar atenção à gramática, para evitar apontamentos como: “Passar o sábado na companhia de quem me trás boa energia...”» Sábado, 26.03.2015, p. 26). Lamentável, sem qualquer dúvida, mas a verdade é que vejo gente mais qualificada (ou assim se julga) que dá o mesmíssimo erro.

 

[Texto 5716]

Concordância verbal

Diga-se, por precaução

 

    «Do terraço da casa no Alentejo nada se vêem senão sobreiros, mimosas e eucaliptos» («Pausa na horta, mãos à política», Maria Espírito Santo, Sábado, 26.03.2015, p. 79).

    Claro que pode ser gralha — mas, e se for convicção? Ad cautelam, exponha-se o caso. Se até o sujeito composto resumido por «tudo» (e por «nada», «ninguém», «alguém») leva o verbo para o singular, imagine-se neste caso.

 

[Texto 5715]

Para lá das leis da física

Vá, não exagerem

 

    «[Eduardo Gonçalves] O mais português candidato ao parlamento britânico gosta de cricket e de ouvir os sons ultra-sónicos dos morcegos» («Pausa na horta, mãos à política», Maria Espírito Santo, Sábado, 26.03.2015, p. 78).

      Algum problema com «críquete», Maria Espírito Santo? Já sei: é para dar a cor local. E «parlamento» não merece maiúscula? Mas sobretudo: como é que esse português magnífico pode ouvir ultra-sons, que, por definição, estão acima do limite dos sons audíveis?

 

[Texto 5714]

Ensino do Latim, de novo

Um insano elogio à incultura

 

      O Público, desta vez no editorial, regressa, o que era previsível, ao tema do ensino do Latim. Cada um avaliará por si; quanto a mim, estudar Latim foi uma das decisões mais importantes da minha vida. Laus Deo.

      «Há um ano, nas páginas de opinião do PÚBLICO, uma professora deixava no ar esta pergunta: “Será possível que ninguém queira aprender Latim em Portugal? Que nenhum aluno se interesse pelo mundo antigo e pelas histórias que percorrem a arqueologia da humanidade? Que os jovens portugueses sejam tão diferentes dos seus congéneres europeus? Há verdadeiramente interesse, por parte de quem decide, que a situação mude?” Da parte dos alunos, a resposta estava dada: contra os 13 mil que em 1996 fizeram o exame de Latim do 12.º ano, os números de 2014 eram verdadeiramente catastróficos, mostrando que apenas 114 se apresentaram a exame nesta disciplina (exame que agora se realiza no final do 11.º ano). Culpa dos alunos? Também, mas não principalmente. A verdade é que o ensino do Latim foi sendo visto ao longo dos anos como coisa menor, com os resultados que estão à vista. Culpa, em primeiro lugar, de quem decide. Ora quem decide, ou seja, o Ministério da Educação, vem agora admitir (como se registou no artigo “Latim a remar contra a maré”, publicado na edição de 1 
de Abril) que “está a preparar o reforço do ensino de Latim e Cultura Clássica no ensino secundário”, admitindo, quanto ao ensino básico, estar “a estudar a possibilidade de a oferta curricular ser definida em algumas escolas”. Isto, para recorrer ao próprio Latim, é uma “salvação” in extremis. Ou seja: no limite, nos últimos momentos vitais. É como se à cabeceira de um moribundo se sentassem especialistas a discutir um plano a médio prazo que viesse a devolver-lhe a vida. Mesmo que se salve a intenção (para já é apenas isso que temos pela frente, uma intenção), tudo o resto caminha a desfavor. A começar por um “acordo ortográfico” que menospreza e renega a raiz latina e grega da língua portuguesa, agora reduzida na fala e na grafia a ferramenta utilitária e esvaziada de bases científicas. E a esta miséria chegámos, num insano elogio à incultura» («Salvação do Latim tardia e in extremis», Público, 2.04.2015, p. 43).

 

[Texto 5713]