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Linguagista

«Salvo/salvas»

Ambas correctas, uma esquecida

 

      «É permitido todo o género de trabalho, cultura, indústria e comércio, salvas as restrições da lei por utilidade pública» (Constituição de 1838, art. 23.º, § 3.º).

      Hoje em dia, dir-se-ia, quase de certeza, «salvo as restrições, etc.», e, no entanto, são ambas igualmente correctas. Num caso, entende-se a palavra como particípio passado que se convolou em adjectivo; no outro, é mera preposição.

 

[Texto 5723]

Tradução: «dimmable»

Não merecem a língua que têm

 

      Já há muita gente entusiasmada com a perspectiva da chegada da lâmpada de grafeno — mais duradoura, potente e económica do que o LED — ao mercado, sobretudo porque será, dizem eles, «dimmable». Alguns, com uma parte do cérebro ainda a funcionar em português, afirmam que são «dimáveis». Ora, ora, se dissermos que são reguláveis, não se percebe?

 

[Texto 5722]

Tradução: «spanner»

A ferramenta trocada

 

      A minha filha estava agora a decifrar as instruções do jogo Cluedo, Crime em Tudor Hall. Uma das possíveis armas do crime é uma chave de parafusos — na tradução, porque o que vemos (eis aqui uma imagem) é algo diferente. É uma chave-inglesa ou uma chave aperta-tubos? Não nos esqueçamos de que um leitor nos disse aqui que chave-inglesa e chave-francesa são ferramentas diferentes.

 

[Texto 5721]

Léxico: «parémia»

Não chega

 

      No seu Curso Prático de Português, ensina José Portugal que a ironia se apresenta de várias formas: sarcasmo, asteísmo, antífrase, eufemismo e parémia. Sobre esta, escreve: «Parémia — ironia que exprime um ditado, sentença ou provérbio, uma coisa que não queremos declarar francamente: Não inventou a pólvora — em vez de estúpido; Estar a ensinar o Pai-Nosso ao vigário em vez de estar a ensinar quem sabe mais do que tu.» O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora define assim parémia: «alegoria breve; provérbio». Não chega.

 

[Texto 5720]

Sobre «saeta»

Pode ser fatal

 

      Agora que estamos na Semana Santa, lembramo-nos mais destas coisas: não é espantoso que o Dicionário de Espanhol-Português da Porto Editora de saeta* diga que é «seta», «ponteiro (relógio)», «agulha (bússola)»? E isto tem importância? Evidentemente: para a tradução. Já vimos aqui exemplos abundantes de péssimas traduções do castelhano, mesmo de multipremiados. Ou já se esqueceram? Vá lá, aquele dicionário regista torrija.

 

[Texto 5719]

 

* Do latim para o português, também se passou por esta forma: sagita>saeta>seeta>seta.