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Linguagista

«Meio-amargo» ou «meio amargo»?

Parece-me bem

 

    «Para compensar os excessos alimentares da Páscoa, Ana Faria sugere que as famílias aproveitem os dias de férias para fazer caminhadas ou andar de bicicleta com os filhos. Há mais dicas. No momento da escolha do ovo de chocolate a oferecer aos mais novos, deve optar-se por um de “chocolate amargo ou meio-amargo, uma vez que estes têm menos açúcar”, explica Ana Faria» («A origem dos ovos e das amêndoas», Adriana Neves e Rita Neto, Público, 4.04.2015, p. 10).

    Só chegamos lá por analogia, forma legítima, certamente. Quase todos os dicionários registam o adjectivo «meio-doce», embora apenas referido, e a meu ver mal, ao vinho que contém até 45 gramas por litro de açúcar residual.

 

[Texto 5727]

Como se aplica o AOLP90

Não vos fieis

 

       Agora é apenas com os proprietários da Arte no Livro. Podia ir lá dizer-lhes, pois somos quase vizinhos, bastava descer a avenida. Mas aqui fica: no sítio da Internet, logo na apresentação da oficina/empresa, lê-se isto: «Nós dois, pai e filha, somos agora o rosto da Arte no Livro, fieis seguidores dos ensinamentos do Mestre Vítor Santos e seus aprendizes durantes [sic] muitos anos.» Sim, já vi que estão a seguir, como podem e sabem, as regras do novo acordo ortográfico. Está errado segundo as regras de qualquer dos dois acordos ortográficos. A forma correcta é fiéis, porque o plural das palavras agudas terminadas em -el leva acento agudo no e. Claro que também não gosto de ver que escrevem «portfolio», quando podiam optar por uma de três grafias correctas: portefólio, portfólio e porta-fólio.

 

[Texto 5726]

À volta da encadernação

Alguns problemas

 

      «Na sala de dourar, estão à vista peles de várias cores, espessuras e origens e também papéis (importados) com padrões irresistíveis, que apetece transformar em tecidos e vestidos. Também há armários cheios de ferramentas: chifras, aperta-nervos, furadores, viradores e ferros de gravação e douradores com muitas formas artísticas diferentes. Tudo adquirido por Vítor Santos ao longo de muitos anos. […] Uma encadernação chamada “meia inglesa”, sem cantos, com papel e pele custa 75€; a “meia francesa”, com cantos, um tamanho standard e que não necessite de grande restauro custa 110€. “Isto inclui desmanchar o livro todo, voltar a cosê-lo, colocar o transfil, arredondar a lombada, colocar o fitilho [fita marcadora], fazer os nervos, gravar”, enumera Andreia» («A Arte no Livro restaura e encaderna o passado», Rita Pimenta, Público, 4.04.2015, p. 24).

   Vejam o que regista sobre «chifra» o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «instrumento que serve para raspar e adelgaçar o couro, usado pelos encadernadores e outros mecânicos». Não quereriam dizer «outros artífices», por exemplo? Este dicionário não regista «transfil», apenas «tranchefilas»: «bocado de papel ou pelica que os encadernadores colam na parte superior e inferior da lombada dos livros para prender os cadernos». Mas encontramos «transfil» neste manual de encadernação. «Meia-francesa» e «meia-inglesa» não se escreverão como o acabei de fazer? Por aqui e por ali, leio «meia-amadora» e «meia-inglesa», por isso seria de esperar que também se escrevesse «meia-francesa».

 

[Texto 5725]

Nome das religiões

Quando calha

 

   «Os ovos de chocolate da Páscoa são uma tradição milenar relacionada com o Cristianismo, representando a fertilidade e o renascimento da vida. A tradição consistia em colorir um ovo de galinha com cores alegres. Foram necessários mais 800 anos para que, no século XVIII, pasteleiros franceses tivessem a ideia de fazer ovos de chocolate» («A origem dos ovos e das amêndoas», Adriana Neves e Rita Neto, Público, 4.04.2015, p. 11).

      Quando calha, os jornais dão honras de caixa alta às religiões. Mas só mesmo quando calha, não se vislumbra critério nem intenção. Uma coisa inconsequente.

 

[Texto 5724]