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Linguagista

Como se escreve nos jornais

E como se pensa

 

      «Claro que, para responder ao inquérito, tem que saber [sic] inglês — conhecer só emojis não o levará a lado nenhum. Se precisar de ajuda, pode recorrer ao Oxford English Dictionary, onde a palavra “emoji” já está incluída, apesar de, ironicamente, representar um conceito que substitui precisamente as palavras» («#Linguagem. Não entende emoji? Está condenado», Nelson Marques, Expresso Diário, 28.04.2015).

     É mesmo irónico, de facto, isto de uma palavra estar num dicionário. Quando voltaremos a ver igual fenómeno?

 

[Texto 5804]

Léxico: «ciscar»

Assim, é uma quinta

 

     «Afinal, desde 1992 que teclamos nos telefones como se fossemos galinhas a ciscar o chão» («O SMS está para durar», Pedro Miguel Oliveira, Expresso Diário, 27.04.2015).

    O ciscar das galinhas é muito bonito, reconheço. É pena misturar depois com os porcos. É dos erros mais comuns.

 

[Texto 5803]

O descalabro das «colocações»

Lemos e não acreditamos

 

      «Há dois anos, Thomas Piketty saltou com o seu livro “O Capital no Século XXI” para linha [sic] da frente do debate económico mundial. À esquerda aplaudiu-se a forma como colocou o dedo na ferida da desigualdade. À direita colocou-se em causa a metodologia e as soluções, que incluíam aumentar fortemente
 os impostos sobre os mais ricos» («“A dívida de Portugal vai ser reestruturada. É tão simples quanto isso”», Sérgio Aníbal e Bárbara Reis, Público, 28.04.2015, p. 2).

 

[Texto 5802]

Sobre «incardinar»

Não é o mesmo

 

      E depois o sacerdote «regressou a Portugal para se incardinar na diocese da Guarda». Bem sei que 99,99 % dos leitores do Linguagista nunca antes ouviram nem leram este verbo, mas isso não interessa, ficam a saber agora: no sentido de admitir clérigo numa diocese, é transitivo; no sentido de sujar-se de cardina, é intransitivo. Quanto ao que os dicionários registam, também há diferenças. Assim, a título de exemplo, para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é «admitir (clérigo afastado de outra diocese)»; para o Dicionário Houaiss, é «admitir (clérigo) numa diocese». Só esta definição está de acordo com o Código de Direito Canónico. Em castelhano, não apenas tem ainda outra acepção, de uso frequente, como também é pronominal.

 

[Texto 5801]

Léxico: «cetamina/quetamina»

Por um acerto, vários erros

 

      «Os reclusos terão consumido cetamina, um poderoso anestésico conhecido como “tranquilizante de cavalo”, que terá sido introduzido por uma visita na manhã de domingo na cadeia de Castelo Branco. Foi a DGRSP que sublinhou que terá sido aquele tipo de substância a provocar a intoxicação, mas fonte da Polícia Judiciária, que está a investigar o caso, alertou que ainda estão a ser realizados exames toxicológicos para identificar a substância consumida» («Reclusos que consumiram “poderoso anestésico” tinham sido condenados por tráfico», Pedro Sales Dias, Público, 28.04.2015, p. 12).

    Ao longo do dia de ontem, foi cetamina que se ouviu na rádio; à noite, no Telejornal, o jornalista António Nunes Farias disse quetamina, o que não estará mal, pois vem do inglês ketamine. Infelizmente, por cada acerto há sempre vários erros. Um deles foi ter pronunciado incorrectamente a palavra «intoxicação». Desta vez foi /intochicação/, mas também a deturpam em /intossicação/.

 

[Texto 5800]