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Linguagista

O AOLP90 como é aplicado

Incerteza permanente

 

      Então o autor fala das «raças autótones». Sim, decerto, sempre houve erros, mas, com o novo acordo ortográfico, chegou-se à incerteza permanente. E vamos ficar nela por muito tempo, quer o acordo avance (como me parece inevitável, por teimosia e cegueira de quem nos governa) quer não avance.

 

[Texto 5817]

«Ruptura, rutura, rotura»

Se não há canos, não uso

 

      «Em clara rotura com a fé mercantilista, etc.» Chega para perceber. O autor quer seguir a novíssima ortografia e, ao mesmo tempo, evitar que essa opção seja muito evidente. Ora, a verdade é que houve, de alguma maneira, uma especialização: embora sinónimos, ruptura e rotura não se usam indiferentemente em todos os contextos. Assim, rotura é mais empregado em casos em que ocorre um rompimento físico, como o de um cano, por exemplo, ao passo que ruptura é mais usado quando estão em causa questões imateriais, intangíveis. No caso acima, optaria sem qualquer dúvida por esta grafia. Claro que, de acordo com a nova ortografia, escreveria — já expliquei noutro lugar porquê — rutura.

 

[Texto 5816]

Sempre o inglês

O chamado babyblues...

 

      «Quase sempre, o cenário que envolve as futuras mamãs é pintado em tons suaves de cor-de-rosa. “Vai ser tudo óptimo e vai ser um amor incondicional, diziam-me, mas, no meu caso, o bebé nasceu e só me apetecia chorar todos os dias”, lembra Ana [Rodrigues, autora do blogue Mulher, Filha & Mãe], que passou por uma condição de tristeza, irritabilidade e exaustão (o chamado babyblues), experienciada por mais de metade das mulheres depois de serem mães, que se pode prolongar e se transformar [sic] numa depressão pós-parto» («Mães bloguers porque “os bebés não vêm com livro de instruções”», Alice Barcellos, Público, 3.05.2015, p. 18).

 

[Texto 5815]

Léxico: «judeo-»

Estão a tempo, dicionaristas

 

      «Deste apocalipse Hitler concluiu, num testamento sentimental e mentiroso, que a culpa era da conjuração judeu-bolchevique, que nunca existira, excepto como pretexto para ele matar 55 milhões de pessoas. A presunção de progresso e o primado da vida humana acabaram assim 
e, mesmo hoje, tremem a cada assalto» («A morte de Hitler», Vasco Pulido Valente, Público, 3.05.2015, p. 56).

   A propósito: porque é que a maioria dos dicionários não regista vocábulos como judeo-alemão? Nenhuma das judeo-línguas, aliás: judeo-aramaico, judeo-iraniano, judeo-grego, judeo-latino, judeo-árabe, judeo-berbere, judeo-italiano, judeo-espanhol... É um bom contributo, este, para haver confusões.

 

[Texto 5814]

Léxico: «maioral»

Por favor, imitem-no

 

    «À volta de 5000 maiorais do nazismo também 
se mataram para escapar às mãos do exército aliado, que sabiam determinado a fazer alguma justiça. Os “notáveis” conseguiram escapar e uma 
dúzia acabou em Nuremberga, onde a julgaram e acabaram por enforcar. Entretanto, e para bem da humanidade inteira, desabava um mundo, que felizmente jamais será possível reconstituir» («A morte de Hitler», Vasco Pulido Valente, Público, 3.05.2015, p. 56).

    Em vez de líderes, essa praga (com seus cognatos) que se abateu sobre a língua, Vasco Pulido Valente encontrou um termo lidimamente português, maioral, para dizer o mesmo. E já na crónica do 1.º de Maio a usara: «Não percebe ele que a sua própria candidatura, fabricada por meia dúzia de maiorais do PS, à revelia dos portugueses (que nem o conhecem), é o mais grave e humilhante sinal da “degradação da nossa vida pública”?»

 

[Texto 5813]