Queijos, padres e cérebro
«O que Giulia [Enders] explica é que há uma ligação directa do intestino para o cérebro, com o primeiro a enviar ao segundo uma série de sinais que chegam a diferentes regiões do cérebro — a ínsula, o sistema límbico, os córtex pré-frontal, a amígdala, o hipocampo e o córtex anterior cingulado — ligadas às emoções, à moral, ao medo, à memória, à motivação. “Isto não quer dizer que o nosso intestino guie os nossos pensamentos morais, embora haja a possibilidade de os influenciar”» («Os intestinos podem mudar a nossa cabeça?», Alexandra Prado Coelho, Público, 18.05.2015, p. 28).
Não há muitos dicionários que registem o termo cingulado. Aposto, por isso, que há médicos (está bem: e enfermeiros) que o escrevem com s. (E, como costuma acontecer, até ao fim do ano vou ver um caso.) Quando vejo a palavra, lembro-me sempre de outra, de que deriva, cíngulo, e justamente da acepção que mais ocorre, a litúrgica: cordão com que o sacerdote aperta a alva em volta da cintura. Em anatomia, como é o caso do texto acima, é um feixe (cá está: como o cordão dos sacerdotes) de fibras na face interna dos hemisférios cerebrais, que circundam o corpo caloso. Do mesmo étimo, temos outra palavra em português, cincho. Sim, é como se o aro fosse o cordão dos queijos. Nunca cincharam um queijo?
[Texto 5856]