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Linguagista

Ainda o crime de Benfica

Belo par

 

      A repórter Mariana Flor, da RTP, que foi ouvir mirones desocupados que por ali vagueiam desde amanhã, perguntou a uma testemunha: «Acha qu’eles conheciam-se?» Profissional, quis estar ao nível do interlocutor, que descrevera assim o crime: «Entrou um sujeito ontem à noite aqui, onde pede um café, vira as costas, e vai entrar outra vez no café e pede outro café, onde mete a mão ao bolso e dispara à queima-roupa.»

 

[Texto 5866]

Como se fala por aí

É um número

 

     Nuno Rodrigues, da Antena 1, entrevistou, no início do mês, Hélder Santinhos, dirigente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC). Ninguém pode dizer ao sindicalista — amigo, inimigo, mulher, colega... — que não se diz «númaro», mas «número»? Os nossos agradecimentos.

 

[Texto 5865]

Léxico: «badalhoquice»

Nem esta, caramba

 

    O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o vocábulo «badalhoquice». Mais um, a juntar a tantos outros. Na edição de domingo do Diário de Notícias, em entrevista a José Fialho Gouveia (que a esta hora anda está a remoer no que significa viver como um leopardo e ter de sair para ir à caça), António Victorino d’Almeida disse que isto não é uma democracia: «Isto é uma badalhoquice.» Se o maestro fosse um desses maluquinhos que só usam as palavras que estão nos dicionários, ou, pelo menos, nos de referência, lá se perdia este belo retrato.

 

[Texto 5864]

Rigor jornalístico

Faz-nos temer o pior

 

      Ontem à noite, aqui em Benfica, houve um homicídio. A imprensa só não se entende é com o nome da pastelaria onde o crime ocorreu. Como eu passo lá todos os dias pelo menos quatro vezes, posso ajudar. O alvitre de quase todos os jornais é que se chama Lua-de-Mel, embora alguns afiancem que é Lua de Mel. A edição em linha do Sol aqueceu quase ao rubro, pois escreveu LuaMel. Mas não, é menos graficamente rebuscado: Luamel. Tão pouco rigor em algo tão simples de verificar faz-nos temer o pior.

 

[Texto 5863] 

Para todos os leitores perceberem...

Objectivo cumprido

 

      «Convém que a indignação não nos emparveça e que a vontade
 de exibirmos ao mundo a nossa self-righteousness não prejudique inocentes» («Pensar antes de partilhar», João Miguel Tavares, Público, 19.05.2015, p. 48).

      De emparvecer é também esta necessidade — que não o é, antes capricho — de usar palavras de outras línguas assim a esmo. O objectivo só pode ser o de nem todos os leitores do jornal compreenderem.

 

[Texto 5862]

Ortografia: «retaguarda»

Para trás

 

      «Um comunicado lançado 
pela PSP ao início da tarde não conseguiu apaziguar os ânimos, suscitando várias centenas de novas críticas. Algumas delas estranham o facto de o longo esclarecimento resumir o incidente de Guimarães a cinco linhas. “Abrir um inquérito? Para quê??? Para ficar tudo na mesma, porque vocês protegem sempre a ‘rectaguarda’ dos vossos!”, observava uma mãe adepta do Benfica» («Centenas de mensagens de indignação nas redes sociais», Ana Henriques, Público, 19.05.2015, p. 40).

      Só se tirou isto do Facebook ou de outro repositório de igual jaez é que a jornalista tem alguma desculpa. Repito: aqui não há rectas, mas retro, para trás: retaguarda.

 

[Texto 5861]

Regência do verbo «ansiar»

Menos dura que os bastões de aço

 

   «“Anseio que se apurem as responsabilidades criminais e disciplinares. Os polícias que agiram da forma que agiram em Guimarães não têm categoria para servir a PSP. E o apuramento de responsabilidades disciplinares pode levar ao seu afastamento da corporação”, antecipa [juiz Rui Rangel]. Para Rui Rangel, o vídeo do espancamento não deixa margem para dúvidas: o que sucedeu foi “um manifesto abuso de poder que não honra a polícia nem o Estado de direito”» («Centenas de mensagens de indignação nas redes sociais», Ana Henriques, Público, 19.05.2015, p. 40).

    No sentido de «desejar ardentemente», Sr. Juiz, o verbo ansiar pede complemento indirecto com a preposição por. Dura grammatica sed grammatica.

 

[Texto 5860]

Rede Europeia Antipobreza

Eles sabem lá

 

      «A ideia é hoje à tarde apresentada na sala do senado da Assembleia da República pela EAPN — Rede Europeia Antipobreza — Portugal. O objectivo, segundo a directora executiva, Sandra Araújo, é influenciar os partidos no momento em que preparam os programas para as próximas eleições» («Um parlamento que só aprove leis à prova de pobreza», Ana Cristina Pereira, Público, 18.05.2015, p. 16).

      É isto que eu defendo sempre: queremos lá nós saber que a própria instituição diga que se chama Rede Europeia Anti-Pobreza. (Nos estatutos permitem-se uma variante, igualmente avariada, *Anti Pobreza.) Parabéns, Ana Cristina Pereira.

 

[Texto 5859]

Uma revisão necessária: os colectivos

Coisas de urso

 

      Com que então já não há erros básicos... De manhã, a minha filha viu, na RTP2, durante uns minutos, As Aventuras do Urso Paddington. Correu, escandalizada, para junto de mim e disse-me: «Papá, estão a falar de rebanhos de vacas!» É que ela, ao contrário do tradutor, já conhece os nomes colectivos.

 

[Texto 5858]