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Linguagista

Revisão, já era

Para a próxima

 

      «No ponto em que o Guadiana ainda sofre a influência das marés [Mértola], existem azenhas desde a idade média, que serviram de força motora para a transformação de cereais em farinha» («Azenhas do Guadiana», «As melhores experiências»/Sábado, 21.05.2015, p. 46).

     Nunca a Idade Média esteve tão próxima da meia-idade. Mas força motora está certo, como estaria força motriz.

 

[Texto 5891]

Cada um julgue por si

Sei lá

 

      «Gosto de repetir as coisas que mais gosto e se for preciso de as esgotar, levando-as até ao fim. Vou sempre ao fundo das questões, mesmo que isso implique ir ao fundo. E depois volto, ao mundo e a mim. O Pedro [Paixão] chama-me um Fénix Natural. Talvez tenha razão. O amor existe sempre, mesmo que seja apenas nas palavras» («Do amor e da amizade», Margarida Rebelo Pinto, Flash, n.º 625, 15.05.2015, p. 122).

 

[Texto 5889]

O infelicíssimo verbo «haver»

É tudo o que posso dizer

 

      «A chef Justa é parceira da edição deste ano dos prémios Mulher + FLASH!. O cocktail da festa que vai ter lugar esta terça-feira, dia 19, no Teatro Thália, em Lisboa, é servido por Justa que prefere não revelar muito das iguarias que vai apresentar. “Vão haver muitas surpresas deliciosas é tudo o que posso dizer”, refere para aguçar ainda mais a curiosidade» («“Vão haver surpresas deliciosas”», Hélder Ramalho, Flash, n.º 625, 15.05.2015, p. 84).

      É uma vergonha absoluta, é o que posso dizer. E logo no título também! Não menos de três ou quatro pessoas viram — ou deviam ter visto — o título, mas nenhuma lhe encontrou nada de errado. A pontuação de todo o artigo também foi varrida por um ciclone. E talvez pensem mesmo, como dizem do outro, que escrevem esplendorosamente. Estamos bem, estamos.

 

[Texto 5888]

Museo...

Falta qualquer coisa

 

      «Ouvem-se os disparos contantes [sic] de máquinas e telemóveis, regista-se tudo mesmo que não se saiba bem o que se está a ver devido à falta de museografia. […] “Não ter museologia é o antimuseu”, diz ao PÚBLICO Maria Helena, de Lisboa, contando que quis visitar o edifício para perceber se o que tinha lido sobre o museu estar incompleto era verdade» («No Museu dos Coches quando não se sabe o que se vê, inventa-se», Cláudia Lima Carvalho, Público, 24.05.2015, p. 29).

 

[Texto 5887]

«Recorre-se às sombras»

Para prevenir

 

    «A fila assusta mas não afasta a multidão. O calor aperta mas recorrem-se às sombras. É preciso aproveitar porque este fim-de-semana não se paga» («No Museu dos Coches quando não se sabe o que se vê, inventa-se», Cláudia Lima Carvalho, Público, 24.05.2015, p. 29).

    Pode ser lapso como pode ser convicção, por isso, à cautela, diga-se: é «recorre-se às sombras».

 

[Texto 5886]

Léxico: «xará»

Homónimo

 

    «Tenho um primo que também é xará do meu avô», diz Kalaf Epalanga (também conhecido, ou mais conhecido, como Kalaf Ângelo) a Anabela Mota Ribeiro («2»/Público, 24.05.2015, p. 10 e ss.). «O que é xará?», pergunta a entrevistadora. «Aquele que tem o mesmo nome.» «Como se escreve?», quis ainda saber a entrevistadora. O músico é sincero: «Nunca escrevi essa palavra. Há palavras que às vezes é com X, outras com CH. E às vezes trocamos. Por exemplo, tarrachinha.» Não é bem isto que ele queria dizer. Essas que às vezes escrevemos com x outras com ch são palavras como xixi ou chichi. «Xará» aparece-me de vez em quando, até em traduções. É brasileirismo (vem do tupi) de que não precisamos, evidentemente, mas, ainda assim, fiquei surpreendido que a jornalista não a conhecesse.

 

[Texto 5885]

Como falam os nossos governantes

Sai disparate

 

      Ministra das Finanças, ontem à noite em Ovar: «Temos a certeza que os sacrifícios vão ser suavizados, que as coisas serão progressivamente mais fáceis, mas com muito ênfase no “progressivamente”.»

    Ênfase é e continuará a ser do género feminino. Oxalá seja mais competente na sua área, as finanças.

 

[Texto 5884]

As asneiras pululantes

Pobres ouvintes

 

      Repórter David Carvalho, da TSF: «A taça vai agora passando de mão em mão, é Fejsa quem a tem, e vai passando a taça de mão em mão, ali no palco, onde saltitam, pululam os jogadores do Benfica, que gritam “campeões, campeões, campeões”.» Com o ruído, o repórter não pensou bem. Saltitar é o diminutivo (verbo que indica acção pouco intensa) de saltar, sim, mas pulular não é diminutivo nem frequentativo de pular. Por uma vez, abra um dicionário e veja.

 

[Texto 5883]

As jóias do Acordo Ortográfico

Pobres alunos

 

      «Joias amontoadas sobre bandejas de cobre: esmeraldas de um verde vivo, diamantes cristalinos como a água, ágatas multicores. Ali caminha sobre grossos tapetes da Índia e da Pérsia, nos quais tropeça. Quantas gerações de ladrões terão sido necessárias para acumular riquezas tão fabulosas!» É um trecho do texto do II grupo da prova final de Português do 2.º ciclo. Lá estão as «joias», e está certo, porque o ditongo -oi- (e -ei-) das palavras graves deixaram de ser acentuadas. No entanto, no exemplo de resposta, lê-se: «As esmeraldas de um verde vivo, os diamantes cristalinos e as ágatas multicores são jóias brilhantes e, por isso, dão luz à caverna.» Como é que podem ser tão exigentes com os alunos, quando eles próprios perdem o pé e metem os pés pelas mãos?

 

[Texto 5882]