Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Pronúncia: «poliedro»

Com as vogais abertas

 

    Enquanto não puder fazer o mesmo que Elon Musk, que estava descontente com a escola dos filhos e por isso resolveu criar uma, a Ad Astra, tenho de me contentar em mandar recados. «Ah, a professora não lê assim, mas /puliêdro/.» Mau trabalho, estão a emudecer-nos irremediavelmente as criancinhas. Não, não é, antes [pɔˈljɛdru]. Vá, relembre o alfabeto fonético internacional, o AFI.

 

[Texto 5898]

O nome dos grupos sanguíneos

Sem tirar nem pôr

 

      Pedro Esteves, do Observador, explica em 43 segundos o nome dos grupos sanguíneos. «São quatro os principais grupos sanguíneos. Estes grupos são o A, o B, o AB e o 0 — ou O? Afinal como é que se deve dizer?» E conclui: «Ainda assim, a designação O também é aceite pela comunidade científica.» Em rodapé, lia-se — e aqui é que estava a chave de tudo — que os grupos sanguíneos foram descobertos pelo austríaco Karl Landsteiner e que começaram por ser designados ABC; mais tarde, o C foi substituído por O de ohne, palavra alemã que significa «sem». Ora, como esta preposição introduz expressões que designam ausência, falta, equivale assim a 0 (zero); e como a preposição alemã começa pela letra o, poderá ser também grupo O.

      Revela-se mais útil em castelhano a opção por O, nem que seja para evitar que, na oralidade, 0+ (cero positivo) seja confundido com seropositivo.

 

[Texto 5897]

Os Rohingyas

Uma coisa de cada vez

 

      «Há décadas que os rohingyas são alvo de perseguições e violência étnica na Birmânia às mãos da sua maioria budista. Há por isso um fluxo migratório histórico de rohingyas, dezenas de milhares ao longo de décadas, que todos os anos tentavam alcançar países de maioria muçulmana, em particular o vizinho Bangladesh» («Centenas de corpos encontrados em valas comuns na Malásia», Félix Ribeiro, Público, 25.05.2015, p. 22).

   Também devia estar aportuguesado, mas que o jornalista o escrevesse no plural já merece foguetes. Vamos ver se agora não se esquece.

 

[Texto 5896] 

«Casta/uva»

Hum...

 

      «Sábado a meio da tarde, Augusto Abreu era, como já se tinha tornado habitual, o primeiro da fila para a sessão seguinte do Tomar um Copo (uma brincadeira com uma expressão portuguesa que não se usa no Brasil). “Há uns 15 anos já que me interesso por vinho”, explicou ao PÚBLICO. Desde essa altura que começou a frequentar palestras e a tentar sempre aprender mais. “Queria perceber porquê esta uva [no Brasil, casta diz-se uva] e não aquela, porquê o vinho feito desta maneira e não de outra.”» («O “encantamento” dos brasileiros com os vinhos
 de Portugal», Alexandra Prado Coelho, Público, 25.05.2015, p. 20).

      Será mesmo assim? Se sim, não há rasto nos dicionários. Aguardemos que algum leitor brasileiro tenha a caridade de nos elucidar.

 

[Texto 5895]

Mas que raio de contas...

Releu? Não, pois não?

 

      «A festa foi rija para os cerca de mil adeptos da equipa que viajaram para Freamunde em nove autocarros (quase um quarto dos 4,5 mil habitantes de Tondela) e que comemoraram o feito inédito com jogadores, técnicos e dirigentes» («Tondela é campeão
 da II Liga e União da Madeira também sobe», Paulo Curado, Público, 25.05.2015, p. 39).

      Não tem nada que enganar: são mais de cem adeptos por autocarro. Você não nos assuste, Paulo Curado, diga-nos que não há autocarros assim, diga-nos que isto foi feito em várias viagens.

 

[Texto 5894]

Sobre «caixa-de-ar»

Uma definição para rever

 

      «“Queríamos que depois da intervenção os azulejos fossem aplicados na parede exactamente da forma original”, conta [a directora do Museu Nacional do Azulejo, Maria Antónia Matos], explicando que a solução encontrada foi aplicar os azulejos sobre placas de um material usado no fabrico de aviões, o aerolame, que foi sobreposto em caixas-de-ar. Assim, a humidade chega à caixa-de-ar, mas não ao azulejo, que, embora pareça, não está colocado na parede» («“O azulejo não parou no tempo, o azulejo renova-se todos os dias”», Cláudia Lima Carvalho, Público, 25.05.2015, p. 29).

  Caixa-de-ar, com hífenes (mas caixa-d’água). Está certíssimo. No Dicionário Houaiss, contudo, está sem hífenes. Agora repare-se na definição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «espaço entre o solo e o vigamento de um edifício». Para mim, e o conceito do artigo não é muito diferente, este espaço era entre os dois panos de uma parede, e não entre o solo e o soalho. Quanto a «aerolame», foi a primeira vez que a vi.

 

[Texto 5893]

Ortografia: «jus»

Não faz jus

 

      «As 40 variedades de chão à escolha fazem juz ao nome da casa» («Casa de Chá das Maltesinhas», «As melhores experiências»/Sábado, 21.05.2015, p. 44).

      Isso mesmo: quem escreve «chão» em vez de «chá» também é capaz de escrever «juz» em vez de «jus». Acaso escrevem «juztiça»?

 

[Texto 5892]