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Linguagista

«Sumos depurativos»

Não me convidem

 

      «Aliado a isto, cuidado com a alimentação. Toda a semana teríamos seis refeições diárias, com o cuidado de nunca passarmos mais do que três horas sem comer, para manter o metabolismo sempre a funcionar: um sumo detox às 6h50; pequeno-almoço às 8h (muesli de frutos silvestres, pão especial de cereais, queijo fresco, fiambre de peru, iogurte magro, chá e infusões, fruta); almoço; snack da tarde, após o segundo treino; jantar e ceia (muitas vezes constituído apenas por um chá)» («Afinal, descansar custa muito suor — e o corpo é que ganha», Victor Ferreira, «Fugas»/Público, 2.08.2014, p. 12).

      «Sumo detox», assim mesmo, sem aspas nem itálico. (Fará mesmo bem uma mixórdia daquelas? E será mesmo conveniente ter o metabolismo sempre a funcionar?) Hoje mesmo, a Fundéu veio recomendar que se diga e escreva «depurativo»; no caso, seria «sumo depurativo». Detox é uma coisa completamente bárbara, de traidores da língua.

 

[Texto 5912]

Etimologia: «enfermo»

Nem firme nem hirto

 

      O autor lembra, e bem, que enfermo deriva do latim infirmu, o que significa que a pessoa não (in) está firme (firmis), ou seja, está fraca, doente. Com a mesma raiz, temos, naturalmente, enfermidade, mas também enfermaria e enfermeiro.

 

[Texto 5911]

Pormenores...

Interessa é que se perceba

 

      Para o autor, tudo eram pormenores, coisa de somenos. A ortografia era um pormenor. A sintaxe era um pormenor. Mesmo a lógica era um pormenor. O que tinha importância decisiva, afirmava, eram as ideias e só as ideias (sem lógica?). Talvez tivesse sido ele que pôs o anúncio no OLX: «Vndo tclado quas novo, a bom prço. Somnt lh falta uma tcla.»

 

[Texto 5910]

Léxico: «zofoba»

Contem comigo

 

      «À mesa [no Museu Municipal de Loures, na exposição sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio], havia várias possibilidades para experimentar o mundo do sabor dos insectos. Além dos gafanhotos e das baratas-da-argentina com chocolate, havia ainda canapés de queijo-creme enfeitados com larvas de tenébrio (mais conhecido por bicho-da-farinha), bolachas de farinha de tenébrio, bolo de farinha de grilo com larvas de Zophobas morio (um coleóptero). Ou ainda as mesmas larvas de Zophobas (ou zofobas) mas simples, sem mais nada, apenas para mergulhar no tal molho picante. E que, diga-se, são bastante crocantes. Há quem considere que o sabor se assemelha ao dos torresmos» («Baratas com chocolate, larvas crocantes? Fomos provar os snacks do futuro», Nicolau Ferreira, Público, 27.05.2015, p. 31).

 

[Texto 5908]

Ortografia: «alíquota»

Parece que há alternativa

 

      «Cada ampola de Avastin custava mil euros e, por ser muito cara, tinha a direcção da unidade decidido que de cada vez que não se gastava uma ampola até ao fim era reaproveitada ficando guardadas as sobras em pequenas seringas (o chamado sistema de aliquotas)» («Tribunal da Relação de Lisboa confirma absolvição no caso da cegueira no Santa Maria», Catarina Gomes, Público, 27.05.2015, p. 9).

      Só com uma excepção, que nem sequer vale a pena citar, todos os dicionários que consultei registam alíquota. O antónimo é aliquanta. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras indica, não apenas duas pronúncias para alíquota (co ou quo), mas duas grafias, pois também acolhe a variante alícota.

 

[Texto 5907]

«Prerrogativa/prorrogativa»

Outro par perigoso

 

      «Não existem jardineiros, mas abundam os curiosos e os madeireiros de serra em punho, cujas intervenções deveriam ser adjudicadas com transparência, critério
 e sem conflitos de interesse, tantas vezes ao arrepio dos pareceres fitossanitários
 de entidade idónea e, ultimamente, ao abrigo do não exercício da prorrogativa de declarar esta temática como estruturante, o Despacho do 60/P/2012 do Senhor Presidente de CML de então, mas 
quando há um parecer sério que indica a necessidade de abater determinada árvore, logo esse mesmo parecer serve para uma dúzia de outras sãs» («Carta aberta ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa», VV. AA., Público, 27.05.2015, p. 46).

      A carta é assinada pela Plataforma em Defesa das Árvores. É quase sempre assim: quanto mais autores, mais e maiores erros. Descansam uns nos outros: «Ah, o Pedro escreve esplendorosamente, deixem-no ser ele a escrever.» É prerrogativa, ou seja, regalia; privilégio; direito; apanágio, e não prorrogativa. Sim, também existe o adjectivo prorrogativo, que prorroga ou serve para prorrogar, mas não é para aqui chamado.

 

[Texto 5906]

Léxico: «leitelho»

Poucas vezes a vejo

 

      Onda de calor na Índia já matou mais de 1100 pessoas. «No Estado de Andhra Pradesh, o Governo montou locais de atendimento de emergência na rua e está a distribuir água e leitelho como protecção contra o excesso de calor» (Nuno Carvalho, Antena 1, 7h00).

   Leitelho (ou soro da manteiga) é palavra que só costumo ver em traduções, o que é natural, pois é um subproduto do fabrico da manteiga escassamente usado no Ocidente. Aliás, aqui também houve tradução, as fontes do jornalista serão em língua inglês e usarão a palavra buttermilk.

 

[Texto 5905]