Este «avuncular»...
Deixa ficar como está
«Entre estes [refere-se aos revisores] conheci límpidas criaturas de tacto e ternura ilimitados que discutiam comigo um ponto e vírgula como se fosse um ponto de honra – o que, na verdade, é muitas vezes um ponto de arte. Mas também me cruzei com alguns brutos pomposos e avunculares que tentavam “fazer sugestões” a que respondia com um trovejante “Vale!”» (Opiniões Fortes, Vladimir Nabokov. Tradução de Carlos Leite. Lisboa: Relógio D’Água, 2015, p. 100).
Se eram meras sugestões, não sei para que era o «vale!» (stet, em inglês), que serve para anular emendas. Um pormenor. Mais: supondo que o avuncular do original está correcto, em português não o está certamente. À letra está certo, sim, mas, se não estamos perante um falso cognato*, não sei que diga. Gostava de ver Nabokov a lidar com certos revisores que o atanazassem com a imputação de falsos erros. Desistia de escrever e ia borboletear atrás dos seus queridos lepidópteros...
[Texto 6007]
* E por falso cognato: Martin Amis escreveu que este «‘avuncular pompous brute’ is exquisite».