De quem são as dedicatórias
Era o que faltava
«A quem acha que as dedicatórias dos livros de Saramago é um património público sobre o qual o autor não pode interferir sem cometer um crime, deve-se responder: “Descubram que o tempo passou, e que toda a gente tem o direito de agir em conformidade com a passagem do tempo”. O artigo do Observador tinha um outro objectivo que não era pura e simplesmente o de acusar Saramago de um apagamento, sub specie “estalinista”: resgatar do esquecimento público a escritora Isabel da Nóbrega. Mas nenhuma justiça lhe pode ser feita se essa evocação faz dela a “musa” caída de Saramago; e se o assunto acaba por ser as “pernas bonitas” os “incríveis olhos”, e a superioridade de classe de Isabel da Nóbrega. Que venha agora alguém e a salve dos seus salvadores» («O estalinista e a sua musa», António Guerreiro, «Ípsilon/Público, 5.06.2015, p. 26).
No meu caso, pelo menos, está resgatada, pois não apenas vou reler as crónicas reunidas em Quadratim, que tenho aqui algures, como acabei de comprar na Iberlibro um exemplar de Viver com os Outros. Quanto à dedicatória substituída, nada mais natural, pois o autor é soberano, apaga, acrescenta, modifica.
[Texto 5944]