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Linguagista

De quem são as dedicatórias

Era o que faltava

 

      «A quem acha que as dedicatórias dos livros de Saramago é um património público sobre o qual o autor não pode interferir sem cometer um crime, deve-se responder: “Descubram que o tempo passou, e que toda a gente tem o direito de agir em conformidade com a passagem do tempo”. O artigo do Observador tinha um outro objectivo que não era pura e simplesmente o de acusar Saramago de um apagamento, sub specie “estalinista”: resgatar do esquecimento público a escritora Isabel da Nóbrega. Mas nenhuma justiça lhe pode ser feita se essa evocação faz dela a “musa” caída de Saramago; e se o assunto acaba por ser as “pernas bonitas” os “incríveis olhos”, e a superioridade de classe de Isabel da Nóbrega. Que venha agora alguém e a salve dos seus salvadores» («O estalinista e a sua musa», António Guerreiro, «Ípsilon/Público, 5.06.2015, p. 26).

      No meu caso, pelo menos, está resgatada, pois não apenas vou reler as crónicas reunidas em Quadratim, que tenho aqui algures, como acabei de comprar na Iberlibro um exemplar de Viver com os Outros. Quanto à dedicatória substituída, nada mais natural, pois o autor é soberano, apaga, acrescenta, modifica.

 

[Texto 5944]

«Número Zero»

Sem apuros nem revisor

 

      «A partir deste ponto, Umberto Eco [na obra Número Zero, com tradução de Jorge Vaz de Carvalho e publicado pela Gradiva] lança-se numa fábula desvairadamente cómica sobre a prática jornalística com o “doutor” Colonna a vigiar o estilo e guiar os colaboradores – uma equipa oriunda dos mais rocambolescos recônditos – no apuramento de uma linguagem que, como recorda Simei, se dirige a leitores com uma “mentalidade de doze anos”, seja qual for a verdadeira idade. O jornal chamar-se-á Amanhã para contrariar todos os outros que dão notícias da véspera e não terá revisor – uma espécie extinta – uma vez que os consumidores já estão habituados a ler sobre “de Beauvoire ou Beaudelaire, ou Rooswelt nos grandes diários” e não vale a pena alarmá-los com purismos» («Uma cultura monstruosa», Helena Vasconcelos, «Ípsilon/Público, 5.06.2015, p. 25).

      O que me parece é que esse Amanhã já não vem a tempo de inspirar a imprensa portuguesa de hoje, imbuída dos mesmos desvalores.

 

[Texto 5943]

«Etnia/etnicidade»

Na dúvida, o conhecido

 

      «Na altura, o facto de haver um casal gay protagonista numa série dramática foi muito falado. “A série foi pioneira sobretudo por mostrar uma relação entre dois homens de etnicidades diferentes e desse ponto de vista foi completamente exemplar”, defende João Oliveira, investigador em estudos de género no ISCTE, em Lisboa, acrescentando que a diversidade não é só de género ou sexual, pode ser étnica, económica» («Uma década após o fim dos Sete Palmos de Terra, que morte é esta?», Nicolau Ferreira, Público, 5.06.2015, p. 31).

      São dois homens de etnicidades diferentes ou de etnias diferentes? Eis a dúvida, mas dúvida que resolveria, se só tivesse cinco minutos para pensar no caso, como acontece, a favor de «etnia».

 

[Texto 5942]