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Linguagista

Ortografia: «eh pá»

Gelado, gelado

 

      «“E portanto, portanto, como era do meu primo, é meu (...) Pronto é assim que os senhores fazem imputações. Como é seu primo, epá, isto era seu certamente. Epá, parabéns”, reagiu Sócrates com ironia durante o interrogatório» («O que Sócrates disse e ouviu quando foi interrogado», António José Vilela, Sábado, 11.06.2015, p. 48).

   Não se percebe se o jornalista queria escrever EPA, a sigla de Environmental Protection Agency, ou Epá, a marca de gelados. Não?! Eh pá, já percebi. (E se o Ministério Público não tem nada e estiver só a atirar barro à parede? Impossível? Veremos.)

 

[Texto 5967]

«Ave, Maria!»

Deus te salve

 

      «Avé-Maria, cheia de graça!» Pois, pois, mas Maria é vocativo, tem de estar ali uma vírgula, não um hífen. E a interjeição é latina, ave!, não leva acento. Estranhamente, alguns dicionários não a registam, embora não deixem de acolher salve. Incongruências dos nossos dicionários.

 

[Texto 5966]

Como se escreve nos jornais

Completamente inútil

 

      «De acordo com o relatório e contas (R&C) da SPE referente a 2014, aprovado em Abril, verifica-se que o processo contra a Endiama, que decorria num tribunal arbitral, acabou por não chegar ao fim» («Diamantes levam a guerra de indemnizações entre Luanda e Lisboa», Luís Villalobos, Público, 11.06.2015, p. 14).

  Para quê o preciosismo inútil do «R&C»? Por este caminho, ainda reproduzem a assinatura do TOC. A larga maioria dos leitores/clientes, tirando algum maluquinho (acho que é assim que se diz de acordo com o politicamente correcto), não apreciará.

 

[Texto 5965] 

Plural de «molho»

É a boa acção do dia

 

      Há pessoas que só aprendem desta forma traumática. Quantas vezes por dia aquela empregada do Pingo Doce dirá a palavra «molhos»? Tratou-se de um estado de necessidade, a favor de terceiro. Depois de o cliente, um funcionário da Escola da Mata, encomendar não sei quantos frangos assados, a empregada perguntou-lhe se era com «mòlhos». Perguntou duas vezes, porque o cliente não estava a perceber que «mòlhos» eram aqueles. Na iminência da terceira vez, tive de intervir. Atalhei: «O plural de “molho” é “môlhos” e não “mòlhos”.» Agora só tenho de ter cuidado, não vá ela envenenar-me as pataniscas.

 

[Texto 5964]

Terminologia anatómica

Pois, mas não pode ser

 

     «Portrait of My British Wife, do artista grego Panayiotis Lamprou, é a única obra que não está para venda. Trata-se de um retrato intimista da mulher do artista, que se encontra sentada à porta da casa de férias na Grécia. Ela olha directamente para a câmara, com uma certa tranquilidade, tendo vestida apenas uma camisola de alças, as pernas abertas e a vagina totalmente visível. A fotografia situa-se num terreno ambíguo entre a nudez artística e a pornografia. É bastante explícita, ao mesmo tempo que é tímida e provocante» («Na Barbado Gallery vê-se da Menina Afegã até aos cães de Martin Parr», Seomara Pereira, Público, 11.06.2015, p. 25).

   Bem sei que não se trata de um artigo científico, mas os jornalistas não devem escrever como qualquer zé-dos-anzóis. Só por dissecação é que a mulher de Panayiotis Lamprou teria a vagina totalmente visível. Pense nisto, Seomara Pereira.

 

[Texto 5963]