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Linguagista

«Cabeça-de-lista»

Cabeças-de-alho-chocho

 

   «O ex-ministro do PSD Miguel Relvas foi uma das hipóteses apontadas para cabeça-de-lista da coligação no distrito de Santarém» («Nome de Miguel Relvas volta a surgir para a lista de Santarém», Rui Pedro Antunes, Diário de Notícias, 9.06.2015, p. 10).

  Querem ver que está entre as locuções substantivas, adjectivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais já consagradas pelo uso? A par, digamos, de «água-de-colónia», «arco-da-velha», «cor-de-rosa» e outras. Como é que se pode andar há tantos anos a aplicar o Acordo Ortográfico de 1990 e fazê-lo tão mal?

 

[Texto 5973] 

Sobre «transplantado»

Nem pensam

 

      «Além disso, “para os doentes transplantados e insuficientes renais crónicos, que realizem diálise peritoneal ou hemodiálise domiciliária, o SNS passa igualmente a assegurar os encargos de transportes, independentemente do número de deslocações mensais”» («Governo alarga isenções no transporte de doentes mas corta três milhões», Romana Borja-Santos, Público, 12.02.2015, p. 13).

      Tem razão Fernando A. Navarro: transplantado só pode ser o órgão, não a pessoa que o recebe. É, pois, erróneo, como fazem alguns dicionários, definir desta forma «transplantado»: «que ou quem sofre um transplante». Como em inglês se diz transplant patient, alguém julgou, sem pensar, que bastava copiar. Não precisamos de pioneiros deste jaez.

 

[Texto 5972]

«Pasternakiano» e «haraquírico»

Tresvaliemos então

 

      «E, na mesma semana e sem nexo, continuei a ler The Zhivago Affair, de Peter Finn e Petra Couvée, a muito interessante história do livro de Pasternak e do papel que a CIA e o KGB tiveram quer na sua publicação, quer na sua repressão. É uma leitura mais conservadora, neste meu “tresvaliando”, visto que se espera que quem escreve sobre o comunismo leia este tipo de livros, tornados ainda mais interessantes pelo acesso a arquivos até agora fechados. Mas eu tinha tido um bloqueio pasternakiano (se é que isto se pode dizer) porque o filme de David Lean sempre me pareceu demasiado meli-melo para [sic] meu gosto. Mas, num certo sentido, isso era fiel à intenção do autor, e talvez o deva ver de novo. Os olhos mudam» («Tresvaliando», José Pacheco Pereira, Público, 13.06.2015, p. 44).

   E porque não poderia dizê-lo? Pode pois, e há décadas que outros o disseram. E não é méli-mélo, termo francês, que se escreve? Há dias, no Telejornal (9.06.2015, RTP1), foi Rogério Alves, ex-bastonário da Ordem dos Advogados, que, depois de qualificar certa estratégia de defesa (serem os próprios acusados a «libertar» informação, nas palavras do jornalista-escritor J. R. dos Santos, que também disse — pobres telespectadores! — «políticos sobre escrutínio») como «meio haraquírica», acrescentou «se me é permitido o neologismo».

 

[Texto 5971]

Ortografia: «semicultura»

Pelo menos este

 

      «Ora, o que se passa é exactamente o contrário: dando meios à mediocridade cultural, a única coisa que se consegue é amplificar a mediocridade. E o público que se mobiliza para essas manifestações – onde muitos, por crença ingénua ou interesse estratégico, vêem sempre uma promessa de futuro – não se satisfaz com o puro entretenimento, sente-se legitimado pela convicção de que se ocupa de problemas importantes e aparentemente sofisticados. Esta semi-cultura de quem está persuadido de que participa num importante empreendimento cultural é muito mais nefasta do que a pura ausência de cultura» («Menos literatura, por favor», António Guerreiro, «Ípsilon»/Público, 12.06.2015, p. 36).

      Mesmo de olhos semicerrados, e se não formos já semicadáver, vemos que está errado, pois os compostos formados com o prefixo semi só levam hífen quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h, i, r ou s: semi-homem, semi-interno, semi-recta, semi-selvagem. Pelo menos este suplemento devia ser revisto.

 

[Texto 5970]