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Linguagista

Como falam os políticos

O provável e o certo

 

      António Costa, no Fórum TSF: «[As pessoas] Sentem, em segundo lugar, que este governo não alcançou nenhum dos objectivos que se tinha proposto na governação, que fracassou quer no relançamento da economia quer na gestão da dívida, e sendo também que o Partido Socialista, com o programa que apresentou, aprendeu não só com os erros da governação da coligação de direita, como aprendeu com os seus próprios erros, ou tem uma clara noção pelo menos que as condições de hoje são completamente diferentes das condições que haviam há dez anos atrás» (8.06.2015).

     Pobre verbo haver, tão maltratado e ignorado de tantos e com tanta responsabilidade! Por este caminho, é mais provável o próximo Governo acabar com ele do que extirpar da língua o Acordo Ortográfico de 1990.

 

[Texto 5986]

Silicon Valley

Um pouco mais de cuidado

 

      «Uma questão passa pelo facto de a tecnologia estar 
a ser concebida, de uma forma geral, em Sillicon Valley, por empresas cujo objectivo é o lucro» («Judy Wajcman. “Temos mais tempo mas não sentimos que o temos”», João Pedro Pereira e Luís Villalobos, Público, 5.03.2015, p. 44).

      Raro é, como também sucede com Massachusetts, encontrá-lo bem escrito. Senhores jornalistas, é Silicon Valley.

 

[Texto 5985]

«Contra naturam»

Não esperava

 

   «A administração [da RTP] está a “corrigir as políticas anteriores de externalização da produção”. “É contra naturam, tendo em conta a tradição, os meios técnicos e humanos e as valências da RTP, externalizar a produção”, sobretudo de fluxo, como são os programas da manhã e da tarde, defendeu ainda [Gonçalo Reis, presidente da RTP], demonstrando uma posição oposta à filosofia que o ministro Miguel Poiares Maduro defendeu para o serviço público» («RTP quer deixar de pagar pelos comentários de políticos e não os quer sozinhos em antena», Maria Lopes, Público, 18.06.2015, p. 9).

      É inacreditável: está certo! Não há aqui latinada, não senhor. Contra, como outras trinta preposições latinas, rege acusativo, e por isso contra naturam está certo. Se o quisermos aportuguesado, é contranatura. Não me surpreendia que, em cada 10 000 vezes que aparece, só uma vez estivesse certo.

 

[Texto 5984]