Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

«Rebaldaria/ribaldaria», de novo

Como se escreve?

 

      «É ribaldaria», assevera também Manuel Monteiro. «Porque nunca se lembraria de ir consultar ao dicionário e se o fizesse seria por duvidar da letra a seguir ao dê (d)» (Dicionário de Erros Frequentes da Língua. Queluz de Baixo: Soregra, 2015, p. 167). Bem, com razão, digo eu, pois já se escreveu rebalderia. «Já deve ter depreendido», dirige-se a nós outros, leitores, «que, além do erro ortográfico, a acepção comum, de mera desordem, não é a mais exacta.» Afirma-o depois de escrever que «ribaldaria é a acção de ribaldo (ambas vêm dicionarizadas), que provém do francês antigo ribalt (ribaud no francês moderno), patife, tratante, malandro ou libertino». E termina: «A Infopédia regista ribaldaria como “velhacaria”.» Bem, esta última parte talvez seja culpa minha: quando, em 2013, sugeri ao Departamento de Dicionários da Porto Editora a variante rebaldaria, nunca pensei que a indicassem apenas como sinónimo de velhacaria. É óbvio que são, em todas as acepções, meras variantes: de ribaldaria, por dissimilação, chegou-se a rebaldaria. Tão-só variantes, uma geralmente de génese popular, como sucede, por exemplo, com moscambilha/mescambilha.

 

[Texto 6000]

«Per se/per si»

Fica para a 2.ª edição

 

      «“Per si” não existe no português», escreve Manuel Monteiro, autor do novíssimo Dicionário de Erros Frequentes da Língua (Soregra, 2015, p. 147). «Existe, sim», continua, «a expressão latina per se, que significa “por si”.» Permita-me, caro colega, discordar. Supõe-se que a locução primitiva, em português, foi per si, correspondente à latina per se, e com o significado de «por si», «só por si» e «de si», «já de si». No decurso do tempo, por contaminação sintáctica destas últimas locuções, passou a ler-se, aqui e ali, «de per si». É esta, e só esta, a incorrecta, e mesmo assim foi usada por escritores modelares como Herculano.

 

[Texto 5999]

Tradução: «charred wood-clad»

E não vai cair, essa torre-farol?

 

      «Na terça-feira soube-se como vai ser o futuro Museu Guggenheim projectado para a frente portuária daquela cidade báltica: um conjunto de módulos rectangulares e uma torre-farol em madeira carbonizada e vidro, da autoria da dupla franco-japonesa Nicolas Moreau e Hiroko Kusunoki, um casal que abriu o seu próprio atelier em Paris em 2011» («O novo Guggenheim vai ser assim, se Helsínquia deixar», Kathleen Gomes, Público, 25.06.2015, p. 36).

   «Madeira carbonizada»? E a torre-farol não se desmorona? Em inglês, está «charred wood-clad», e charred é, de facto, reduzir a carvão, carbonizar... mas também chamuscar. Silas Martí, repórter de artes plásticas e arquitectura da Folha de S. Paulo, escreve que é «madeira negra, um material típico da Finlândia». O que também é, convenhamos, equívoco. Já «enegrecida» ou «chamuscada» seria mais preciso. Veremos o que a imprensa diz nos próximos tempos.

 

[Texto 5998]

O uso de «por quê» e «pelo quê»

Não pergunto assim

 

   «Quando se olha para o acordo proposto pelos gregos, a grande pergunta é: mas, afinal, tudo isto serviu para quê? A Grécia andou seis meses a lutar e a definhar pelo quê?» («Seis meses a lutar pelo quê?», João Miguel Tavares, Público, 25.06.2015, p. 56).

   Então é assim que se pergunta, João Miguel Tavares? Parece-me pouco natural. Deve ter-se esquecido de que além de porquê temos por quê. «Seis meses a lutar por quê?», equivalente destoutras: «Seis meses a lutar por que causa?»/«Seis meses a lutar por que coisa?»

 

[Texto 5997]