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Linguagista

Acordo Ortográfico

E o fascismo pós-moderno

 

      «Admito que seja ainda exagerado falar-se de fascismo pós-moderno. Mas o crescimento da violência legal aplicada à solução de problemas políticos, sem réstia de democraticidade, mesmo 
que apenas formal, dará, a breve trecho, se continuarmos assim, total legitimidade ao uso da expressão. É aceitável a penhora da casa de família por dívidas irrisórias? Impor à paulada o desacordo ortográfico? Tomar eleitores por escravos sem pio de eurocratas não-eleitos, na paródia sinistra em que a Europa se transformou?» («Danos e dolo», Santana Castilho, Público, 1.07.2015, p. 45).

 

[Texto 6012]

Léxico: «borogodó»

Só os Brasileiros têm

 

   «Quando perguntavam a Zé Trindade, um comediante nordestino, como é que conseguia conquistar tantas mulheres, ele respondia que tinha “borogodó”, um atractivo pessoal irresistível, segundo o dicionário Houaiss» («“Paraty é o borogodó da FLIP”», Isabel Coutinho, Público, 1.07.2015, p. 28).

     É uma daquelas palavras expressivas, criadas pela simples sugestão sonora, mais abundantes no português do Brasil, inventadas por não se sabe quem, e que pegam, como bagunça, fofoca, jururu, ziriguidum e outras. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que, destas cinco, só não regista a última, pode ler-se, porém, que borogodó é termo angolano.

 

[Texto 6011]

Ortografia: «call center»

Assim defendem a língua

 

      «Mas os defensores do “sim” no referendo recusam esta associação: “Eu trabalho num call-center, recebo 600 euros, e estou aqui”, diz uma jovem de cabelo curto que não quer ser identificada. “Se o ‘não’ ganhar, se calhar não tenho sequer trabalho. Nem eu tenho trabalho, nem talvez os meus pais tenham, e os meus avós poderão não ter reforma, ou esta desvalorizar ainda mais. E se eu posso emigrar, eles já não conseguem. É muito fácil ser do contra, mas o que propõem? A União Europeia nunca vai aceitar um acordo muito melhor.”» («Afinal, está tudo aberto em Atenas 
e em Bruxelas ainda se negoceia», Maria João Guimarães, Miguel Castro Mendes e Sofia Lorena, Público, 1.07.2015, p. 3).

   Se repetem os erros, tenho de repetir os avisos: sigo o que se recomenda no livro de estilo do jornal inglês The Times: «Call centre noun, two words; hyphen as adjective, eg, call-centre manager». O mesmo se recomenda, já aqui o vimos, em relação a fast food/fast-food. Devo ainda lembrar (ou, como diria certo crítico literário praticante do tarzanismo, «dizer ainda») que melhor seria traduzir a expressão para português. Centro de atendimento telefónico, ou mesmo apenas atendimento telefónico.

 

[Texto 6010]

Sobre «gastronomia»

Olhe que não

 

     «Foi precisamente na vasta correspondência de Camilo que Luís Machado procurou as referências a pratos favoritos. E chegou a vários, entre os quais os que foram servidos no jantar no Martinho da Arcada. Das suas pesquisas, Luís Machado destaca duas coisas: Camilo terá sido o primeiro escritor português a utilizar a palavra “gastronomia”, e tinha nessa área referências que poucos partilhariam» («Camilo entre anátemas de bacalhau e boémias de espírito», Alexandra Prado Coelho, Público, 1.07.2015, p. 31).

      Deve haver aqui alguma reserva mental. Silvestre Pinheiro Ferreira, que usou a palavra «gastronomia» num livro que veio a lume quando Camilo tinha 14 anos, publicou livros, mas não seria escritor.

 

[Texto 6009]

Selecção vocabular

Queda de mais qualquer coisa

 

   «O Hércules C-130, o avião militar, despenhou-se pouco após a descolagem» (João Janes, noticiário das 5h30, TSF, 1.07.2015). Na rádio, não se notam muito as vírgulas fora do lugar, mas a má escolha de palavras não deixa nunca de se notar. «Pouco após»? Parece o nome de um povo indígena brasileiro, os Pocapós.

 

[Texto 6008]