«Governante/governanta»
«A velha governante, a Gertrudes»
Nem de propósito: um alfarrabista acaba de me enviar o catálogo mensal e uma das obras é a autobiografia de Golda Meir, traduzida do inglês por Álvaro Themudo* e publicada pela Dom Quixote em 1975. Quando Golda Meir era primeira-ministra, um jornal português escreveu que era a «governanta de Israel». A ignorância não é de hoje. Ora, sempre que Eça fala de uma governante (há uma inglesa, uma alemã, uma portuguesa...), Helena Cidade Moura altera para «governanta». Isto não é fixar o texto: é fixar o erro, porque vieram outros e acharam natural copiar a lição. A mulher contratada para governar uma casa tanto tem o nome de governanta como de governante. Se integrar o governo de um país, dir-se-á apenas governante. De onde pode vir o mandato para alterar desta maneira o que um escritor, já morto, escreveu há décadas?
[Texto 6040]
* Cá está outro particípio em -udo — mas, como sucede com centenas de outros nomes, arbitrariamente alterado, neste caso com acrescento de um h, com o propósito de o nobilitar.