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Linguagista

«Autárcico/autárquico»

Pouco usado

 

      «Mas o saudável cepticismo relativamente a modelos dogmáticos não deve ser confundido com paroquialismo autárcico e recusa a aprender com as experiências dos outros» («O supermodelo nórdico», João Carlos Espada, Público, 5.02.2013, p. 45).

      Sim, existem os dois, autárcico e autárquico. O significado deste último, que Rebelo Gonçalves regista no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, não é desconhecido de ninguém. Mas, e o primeiro, «autárcico»? Se alguns fazem equivaler «autarquia» e «autarcia», naturalmente que «autárquico» e «autárcico» serão sinónimos. Mas serão mesmo? Parece que há, em relação a este, uma especialização de sentido, significando «o que se basta a si próprio». Mais claro é este exemplo: «É um tipo de desenvolvimento baseado na descentralização da indústria e susceptível de possibilitar um desenvolvimento quase autárcico, reduzindo ao mínimo as relações com o exterior, como refere o autor» (A Integração dos Emigrantes no Sistema Político Caboverdiano [sic], José Mário Barros. Lisboa: Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2008, p. 71).

 

[Texto 6049]

 

«Lame duck»

Sem mestre

 

      Prossegue o edificante propósito dos jornais de nos porem a todos a saber muito bem o inglês. Português não é necessário, já são todos mestres. «Os norte-americanos usam a expressão lame duck (pato coxo), [sic] para designar um presidente que perde poder e influência no final do segundo mandato, quando já todos pensam no sucessor» («Obama tenta não ser um lame duck», Diário de Notícias, 13.07.2015, p. 30).

 

[Texto 6048]

Verbo «presidir»

Nada fica a salvo

 

   Antes de se tornar completamente desavergonhada, Maria Monforte, ali num breve ínterim, «ocupava-se de coisas sérias. Organizara uma útil associação de caridade, a Obra Pia dos Cobertores, com o fim de fazer no Inverno às famílias necessitadas distribuições de agasalhos; e presidia no salão de Arroios, com uma campainha, as reuniões em que se elaboravam os estatutos.»

      Ora, certas edições até nisto se intrometem: alteram a regência dos verbos. Assim, em vez de «presidia as reuniões», registam «presidia às reuniões». Mas presidir é, sem alteração de sentido, transitivo directo ou indirecto. E, se hoje em dia é usado exclusivamente como transitivo indirecto (mas creio que no Brasil não é bem assim), há várias abonações do passado em que se usou como transitivo. Bate tudo certo, porque Os Maias não foram escritos ontem.

 

[Texto 6047]

Míconos

E «Greece» também?

 

      «Não terá sido o caso de Iker Casillas e Sara Carbonero. Depois de, no ano passado, terem escolhido o Algarve como destino para as suas férias, este ano o casal rumou a Mykonos, na Grécia, e a Benidorm, em Espanha» («Das Maldivas ao Japão. De Miami à Grécia ou a Saint-Tropez. As férias dos jogadores», Ana Filipe Silveira, Diário de Notícias, 13.07.2015, p. 40).

      Já tivemos oportunidade de ver aqui que em português se escreve Míconos. Não aprendemos ou desaprendemos entretanto? Para quê vergar tanto a cerviz ao estrangeiro?

 

[Texto 6046]