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Linguagista

«Lajeado de pedregulho»

Mais uma pequena deturpação

 

      António Pereira de Figueiredo, na tradução da Bíblia, escreve que o pavimento do Templo era «lajeado de pedra». A meu ver, dizer-se que o pátio do Ramalhete era «lajeado de pedregulho», como Eça escreveu, também não está errado. E, no entanto, Os Maias que nos vendem têm um s espúrio, «lajeado de pedregulhos». Não percebo.

 

[Texto 6055]

Verbo «haver» e António Costa: dois inimigos

Assim fala Costa

 

   António Costa, em declarações ontem: «Espero que o Primeiro-Ministro tenha tido algum contributo positivo, depois de tantos contributos negativos que deu e tantos entraves que colocou para que houvessem os acordos, se à vigésima quinta hora deu alguma ajuda, mais vale tarde do que nunca e só o felicito se pela vigésima quinta hora deu alguma ajudinha.»

 

[Texto 6054]

Léxico: «andamoso»

Já era

 

   «Passo apressado, taque, taque, taque, que o Sol descambou já e o caminho é longo e mal andamoso. O dia tinha sido de trabalheira cerrada. Pegaram às nove, céu turvo a adivinhar chuvisco» (Vila Branca, Garibaldino de Andrade. Lisboa: Inquérito, 1944, p. 87).

  Infelizmente, também este vocábulo desapareceu dos nossos modernos dicionários. Traz-me, inteira, do passado uma pessoa. É o poder das palavras. Um caminho é bem ou mal andamoso conforme faz bom ou mau andar. Creio que é (era...) mais usada no Alentejo. O autor citado era alentejano, professor (1914-1970). Na década de 50, com Leonel Cosme, fundou e dirigiu, em Sá da Bandeira, Angola, as Publicações Imbondeiro.

 

[Texto 6053]

«Tirar um curso»

Se o tirou, não é dela

 

      Lembram-se da inspectora (aqui) que tirou Direito? Agostinho de Campos que lhe responda: «Vamos responder hoje aqui, e uma vez por tôdas, verificando com alguma tristeza que, pelo modo como se exprimem, os nossos estudantes continuam a tirar os seus cursos, em vez de fazê-los, o que seria melhor para os cursos ficarem verdadeiramente seus» (Glossário de Incertezas, Novidades, Curiosidades da Língua Portuguesa, e também de Atrocidades da Nossa Escrita Actual, Agostinho de Campos. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d [mas de 1938], p. 276).

 

[Texto 6052]

Sobre «quark»

Foi pena, George

 

    «A palavra “quark” para designar estas partículas elementares foi inventada por Murray Gell-Mann (Nobel da Física em 1969), enquanto George Zweig avançou com a designação “ases”, inspirado no facto de um baralho de cartas ser composto por vários ases, tal como os protões e neutrões têm várias dessas partículas elementares. Mas o que vingaria seria a designação quark» («Ao fim de mais de 50 anos, o pentaquark foi detectado», Teresa Firmino, Público, 15.07.2015, p. 30).

      E não teria sido preferível terem o nome de ases? Pelo menos não havia a hesitação, que se vê agora de livro para livro, entre grafar ou não grafar o nome da partícula em itálico. E daí, não sei: com os macaqueadores acéfalos que temos, podíamos estar agora a escrever não ases, mas aces. Fiquemos assim.

 

[Texto 6051]

Tradução: «snap back»

Recuperação automática

 

      «Em caso de violação 
por parte do Irão das suas obrigações, as sanções podem ser reintroduzidas por um mecanismo chamado “snap back”. Estas ficariam em vigor durante dez anos, mas os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança comprometeram-se por escrito a prolongá-las por um prazo suplementar de cinco anos» («Os principais pontos do acordo», Rita Siza, Público, 15.07.2015, p. 3).

      Querem ver que a expressão inglesa é intraduzível ou inexplicável? A prática, já o tenho dito, só podia ser uma, e devia estar interiorizada: depois da palavra ou expressão noutra língua, entre parênteses o jornalista explicaria ou traduziria.

 

[Texto 6050]