Ortografia: «pudico»
Já é tempo
«E porque é que eu deveria ser proibido de considerar que o horrendo e insultante libretto de Tchaikovsckii não é salvo por música cujas púdicas banalidades me perseguiram desde que era uma criança de caracóis num camarote de veludo?» (Opiniões Fortes, Vladimir Nabokov. Tradução de Carlos Leite. Lisboa: Relógio D’Água, 2015, p. 249).
Não tem acento — porque não é proparoxítona, mas paroxítona, grave, como 70 % das palavras portuguesas. E eu que pensava que, por esta altura, pelo menos tradutores e revisores sabiam isto. Francisco Silveira Bueno tem uma explicação para o erro: «Em geral, o povo, quando encontra palavra desconhecida, dá-lhe sempre acentuação proparoxítona por parecer-lhe que assim será mais correto: púdico, metropólita, ávito, élite, Salâmina, etc. A acentuação correta, paroxítona, de tais vocábulos nunca lhe soaria aos ouvidos como urbana e, sim, rústica» (Estudos de Filologia Portuguêsa. São Paulo: Edição Saraiva, 6.ª ed., 1967, p. 57).
[Texto 6072]