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Linguagista

Sobre «cólera»

É inadmissível

 

    O poeta Alencar, já com os copos, garante que esborrachava Craveirote, que lhe fizera uns epigramas. «– Mas não quero, rapazes! Dentro daquele crânio só há excremento, vómito, pus, matéria verde, e se lho esborrachasse, porque lho esborrachava, rapazes, todo o miolo podre saía, empestava a cidade, tínhamos o cólera! Irra! Tínhamos a peste!» Assim escreveu Eça nos Maias, mas na edição dos Livros do Brasil não quiseram que ele se exprimissem desta forma. Ficou «a cólera». Ora, quando se trata da doença infecciosa, cólera é substantivo comum de dois, a cólera e o cólera. Devo dizer que, segundo alguns autores, porventura até a maioria, cólera é nome feminino em qualquer sentido, ira ou doença. Seja como for, é inadmissível esta intromissão no texto de um autor.

 

[Texto 6077] 

«Tegúrio/tugúrio»

Gato por lebre

 

    «— Bem vindo, meu principe, ao humilde tegurio do philosopho!» Assim escreveu Eça nos Maias, mas na edição dos Livros do Brasil não quiseram que ele se exprimissem desta forma. A forma popular tegúrio talvez se explique por dissimilação, como em tantos outros vocábulos. Nada justifica a alteração/deturpação. Em Camilo também se encontra mais que uma vez a variante tegúrio, que não pode, como já Botelho de Amaral demonstrou, acoimar-se de erro.

 

[Texto 6076]

Tradução: «excedencia»

Ah, este jornalismo!

 

      Por qualquer motivo que me escapa, anda toda a gente entusiasmada com a vinda da mulher de Iker Casillas para o Porto. Quase toda a gente conhece já a vida deste casal. Até já se sabe que Sara Carbonero está de licença sem vencimento. Sabe ou sabia: o leitor Pedro A. Guerra avisou-me que no Observador o disseram de outra forma. «A semana passada, Sara Carbonero pediu à Telecinco uma excedência.» Neologismo?, pergunta-me aquele leitor. Não: parvoíce do jornalista. Em castelhano diz-se excedencia, que se pode traduzir por «licença sem vencimento». Não temos cá «excedência», só excesso. Excesso de desmazelo.

 

[Texto 6075]