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Linguagista

Sobre «piza»

Não se percebe

 

      «Obviamente, para começar há que definir a terminologia, e logo a seguir fazer escolhas. Pizza (pronunciar “pitza”) é a palavra italiana com origem no século X que designa um disco chato de massa de pão com vários condutos, incluindo muitas vezes molho de tomate e mozzarella, e cozinhado no forno. O plural de pizza é pizze. Podemos escrever piza e pizas em português, mas por alguma razão não parece bem, por isso vou usar o plural pizzas. Outras palavras relevantes são pizzeria (casa de pizzas) e pizzaiolo (a pessoa que prepara as pizzas; em dialecto napolitano, pizzajuolo)» («Pizza de Revolução», Luís Antunes, Revista de Vinhos, Junho de 2015, p. 80).

      Parece mal a quem? Aos Italianos, não? O que parece mal é misturar italiano com português, quando é tão fácil afeiçoar a palavra à nossa língua.

 

[Texto 6117]

Léxico: «tegão»

Quem não sabe...

 

  «Estávamos ainda muito longe [nos anos 60] das temperaturas controladas de fermentação ou da escolha das castas. Era o que havia na vinha. Depois do tegão de recepção, mostos e películas (eventualmente com engaço) entravam nos autovinificadores de cimento, onde fermentavam» («O Rótulo de Cortiça de Borba», João Afonso, Revista de Vinhos, Junho de 2015, p. 50).

    Quem não souber o que é um tegão de uma adega, vai consultar o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora e fica pelo menos com dúvidas. No verbete «tegão» remete para «tremonha», e aqui lê-se: «caixa em forma de tronco de pirâmide quadrangular onde se deita o cereal que vai cair no adelhão que o conduz ao centro da mó; moega». Pois o tegão é o tanque onde se despejam as uvas à entrada das adegas ou lagares modernos, antes de entrarem na laboração puxadas por um parafuso sem-fim. Estes dicionários...

 

[Texto 6116]

«Sem tugir nem mugir»

Investigações filológicas

 

      «Como leitor deve ter reparado, neste caso, o PÚBLICO estava tão seguro da informação divulgada que, apetece dizer, “nem mugiu nem tossiu”, não obstante a ameaça por parte de responsáveis do Montepio de que iriam processar judicialmente o jornal» («Três queixas, três ilações», provedor do leitor, Público, 2.08.2015, p. 53).

      Tal como a jornalista escreveu «trabalhar de solo a solo», o provedor também acha que pode alterar uma expressão idiomática. Ou estará a fazer-se eco da especulação de Adolfo Coelho, que sugeria que aquele «tugir» estivesse por «tossir»? Sabe Deus. Mas também já houve quem a deturpasse para «sem fugir nem mugir». Há mais formas erradas do que certas, isso sem dúvida.

 

[Texto 6115]

Gentílicos e pátrios segundo o AOLP90

Teoricamente um especialista

 

    «Em Manteigas, na serra da Estrela,
 vivem hoje 2800 pessoas (número oficial, possivelmente desatualizado, pois deve ter nascido ou morrido alguém até esta frase ter chegado aos vossos olhos). […] É óbvio que todos os Manteiguenses falam Português. Mas será que todos os habitantes de Manteigas sabem ler e escrever? E os
 que forem só falantes deverão figurar na estatística, a par dos que também conhecem a escrita? […] Eu próprio, teoricamente um especialista, tenho frequentes dúvidas e faço muitas vezes erros ao escrever. E não conheço nenhuma pessoa, por mais culta que seja, que escreva em português sem fazer erros. […] Mas voltemos aos Manteiguenses e aos números» («As línguas em números», João Cidreiro Lopes, Público, 2.08.2015, p. 54).

   Reparem: o autor, que é professor de línguas aposentado, «teoricamente um especialista», adoptou o Acordo Ortográfico de 1990, escreve os gentílicos (e decerto que também os étnicos ou pátrios) com maiúscula inicial. É justamente como eu interpreto as regras do AOLP90 relativas a esta questão, como já uma vez tive oportunidade de dizer aqui.

 

[Texto 6114]

Ortografia: «contactar»

Se é assim com uma jornalista...

 

      «Entretanto, a FLASH! contatou vários amigos da jornalista e todos desvalorizaram este incidente» («As horas dramáticas de Judite», Ana Cristina Esteveira, Flash!, 24-30.07.2015, p. 18).

    Tudo leva a crer que também este erro veio para ficar. Em Portugal, as formas usadas — mesmo depois do Acordo Ortográfico de 1990 — são contactar e contacto, sempre com c medial articulado. Se uma jornalista dá este erro, imagine-se agora o falante comum. E contactar por entrar em contacto com é anglicismo, como Evanildo Bechara lembra na sua Moderna Gramática Portuguesa.

 

[Texto 6113]

«Glamuroso»?

Está a aclimatar-se

 

      «A ausência da subdiretora de Informação logo se fez notar pelos jornalistas que estavam a cobrir este glamuroso evento anual da TVI, que este ano se realizou no Tamariz, no Estoril» («As horas dramáticas de Judite», Ana Cristina Esteveira, Flash!, 24-30.07.2015, p. 18).

      Parece que veio para ficar. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora recomenda «glamouroso», ao mesmo tempo que indica que no Brasil é «glamoroso». A forma «glamuroso» é a primeira vez que a leio. No Brasil, no entanto, é, provavelmente, a mais comum, a avaliar pela sua inclusão (assim como glamurizado, glamurizante e glamurizar) no Dicionário de Usos do Português do Brasil, de Francisco S. Borba, que regista apenas «glamour» e não «glamur». Veremos no que vai parar.

 

[Texto 6112]