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Linguagista

«Lusíada Maior»

Em que se fala de Camões

 

      O Professor *** refere-se mais de uma vez ao «Lusíada-Maior». Não pode ser: somente a forma reduzida mor é que se liga por hífen ao substantivo precedente, Lusíada-Mor (que nunca vi nem ouvi). No Dicionário de Luís de Camões, com coordenação de Vítor Aguiar e Silva, quase acertam, pois escrevem «Lusíada Maior», em itálico. Aproveite-se o ensejo e relembre-se que, nos compostos de substantivo + adjectivo reduzido mor (de maior), ambos os elementos vão para o plural: alferes-mor/alferes-mores; altar-mor/altares-mores; capitão-mor/capitães-mores; copeiro-mor/copeiros-mores, piloto-mor/pilotos-mores, etc. Claro que toda a gente sabe isto — excepto quando é preciso escrever.

 

[Texto 6152]

«Casinha de prazeres»

Traduzido do inglês

 

      «Nas casinhas-de-prazeres, construídas junto dos muros das quintas, com largas janelas abertas sobre as estradas ou caminhos, havia sempre um bilhar, tabuleiros de xadrez e damas, mesas de jogo, amplas cadeiras de vime» (O Último Cais, Helena Marques. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 3.ª ed., 1994, p. 26).

      E para que serão os hífenes (que se repetem em todas as ocorrências do termo), podem dizer-me? São casas ou casinhas de prazeres, ideia e designação dos ingleses da Madeira, traduzida da expressão inglesa house of pleasure. Eram pequenos pavilhões a um canto do jardim para ver as vistas e como espaço de convívio das senhoras. Em algumas quintas, havia, em vez de casinhas de prazeres, torres avista-navios, também elas espaços de convívio.

   «Afonso Elias não resistira a pegar no calótipo, o qual já tinha incorporado o negativo banhado a nitrato de prata e iodeto de potássio, e a dirigir-se com ele para a casinha de prazeres — como se dizia à inglesa —, situada num ponto do jardim de onde se avistava a baixa funchalense que confinava com o cais da Pontinha» (O Fotógrafo da Madeira, António Breda Carvalho. Alfragide: Oficina do Livro, 2012, p. 28).

 

[Texto 6151]

O AOLP90 no dia-a-dia

Flash!

 

      «O avô de Letizia foi cremado em Salamanca ao meio dia, hora de Espanha, seguindo depois as suas cinzas para Madrid» («Rainha Letizia. Um verão de pesadelo», Vera Lúcia Marques, Flash!, 31.07-6.08.2015, p. 19).

      Ora aqui está mais um triste exemplo da profunda compreensão do Acordo Ortográfico de 1990. Ouviram falar, vagamente, em hífenes e em cc e pp, e logo compreenderam tudo sem nada ler nem reflectir. Uns génios.

 

[Texto 6150]

Léxico: «fuzuê»

Paf!

 

      «É antes de mais incompetente. Depois de todo o fuzué a respeito das contas do PS, o PàF [Portugal à Frente, nome desinspirado, com sigla infelicíssima, da coligação CDS + PSD] apresente um programa sem compromissos precisos, sem descrever os instrumentos para as políticas, sem indicar prazos e medidas, portanto sem credibilidade. Evita o debate no país não dizendo quase nada sobre o que pretende para o país. Talvez tudo isto não seja então falta de “ousadia” mas antes pela língua de pau do poder, paroquial e cortês, sobretudo matreiro porque sabe que a “Europa” não autoriza veleidades» («Um bocejo bem perigoso», Francisco Louçã, Público, 8.08.2015, p. 46).

      Fuzué ou fuzuê é confusão ou conflito, que eu julgava que se usava apenas no Brasil. Brasileirismo, provavelmente de origem banta, é. Francisco Louçã tinha largas dezenas de alternativas, mas escolheu esta palavra como a mais adequada. Os políticos nunca sabem — nem sequer nisto — do que precisamos.

 

[Texto 6149]

Léxico: «oleogosto»

Outro gosto, outra palavra

 

      «Em 1908 foi identificado pelo cientista japonês Kikunae Ikeda, da então Universidade Imperial de Tóquio, o chamado “quinto gosto” ao qual foi dado o nome de umami (que significa “delicioso” em japonês), mas só em 2002 é que este foi oficialmente reconhecido. Agora, um grupo de cientistas norte-americanos [do Departamento de Ciências da Nutrição da Universidade de Purdue, Indiana] propõe que a lista de gostos básicos inclua um sexto e sugere até um nome: oleogustus» («Oleogustus. A gordura pode ser o sexto gosto?», Alexandra Prado Coelho, Público, 8.08.2015, p. 33).

      Talvez em relação a umani não se possa fazer nada — mas vamos deixar que oleogustus fique assim, como se a nossa língua fosse alheia ao latim?

 

[Texto 6148]

Maiúscula com gentílicos e pátrios

Assim é que está bem

 

      «O terceiro homem é um reputado jornalista de Londres, William James, que acaba de passar larga temporada acompanhando a última fase do conflito com os Zulus» (O Último Cais, Helena Marques. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 3.ª ed., 1994, p. 13). «E William James, cortesmente, explica que a guerra de guerrilha é uma forma de luta que os Europeus desconhecem e se apresenta mais destruidora e eficaz do que a batalha campal» (idem, ibidem, p. 15). «“Que irá contar o pai desta viagem? Mais histórias dos Vátuas e do Gungunhana? Ou das guerras dos Ingleses com os Bóeres e os Zulus? Será que capturaram mais traficantes de escravos?”» (idem, ibidem, pp. 21-22). «Os Madeirenses amavam o telégrafo com o mesmo sentido de sobrevivência com que amavam os navios» (idem, ibidem, p. 21).

 

[Texto 6147]

O uso do artigo definido

A África

 

    «Previa e desejava para a África uma solução semelhante à do Brasil, com as monarquias europeias a emanciparem progressivamente as colónias e a apoiarem a formação de novos estados, num trabalho esforçado e metódico, de mútuo interesse e independência» (O Último Cais, Helena Marques. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 3.ª ed., 1994, p. 11).

    Pelo menos dantes era sempre assim que se via, o nome dos continentes antecedido de artigo definido. Agora vejam este outro caso, da mesma obra: «Indignava-o, por isso, que a Prússia revelasse tão fraca noção dos seus deveres em África e tão aparente ignorância das imensas contrapartidas que a África poderia dar-lhe que até se permitia malbaratar vidas e fazendas contra um país que deveria ser seu aliado na grande aventura africana» (idem, ibidem, p. 11). Aqui, na primeira ocorrência, a autora já não usou o artigo contraído com a preposição, «na África», ou porque não lhe soou bem ou porque o julgou errado. Na segunda ocorrência, voltou a usar o artigo. Correcto seria usá-lo em todos os casos.

 

[Texto 6146]

Helena Marques «coloca perguntas»

Que português...

 

    «As senhoras, se sentem enfado, não mostram. E uma delas, Mrs. Doyle, coloca até perguntas oportunas e pertinentes» (O Último Cais, Helena Marques. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 3.ª ed., 1994, p. 13).

    Os autores não seguem sempre o que nós, revisores, sugerimos ou emendamos. Nunca nenhum, porém, até hoje, se recusou quando lhe corrigi estes modismos aparvalhados. Portanto... Os revisores não têm é de se pôr de joelhos.

 

[Texto 6145]