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Linguagista

Tradução: «burgundy grapes»

Borgonha, vergonha

 

      «Cultivated», ali naquela zona do país, «primarily red or burgundy grapes». «Uvas vermelhas ou grenás», é o palpite do tradutor. Culpa também dos dicionaristas. Borgonha, além do que se sabe, é o tom vermelho com um toque de púrpura — justamente associado ao vinho da Borgonha. (Já temos muita sorte que não escrevam — ou escrevem? — Burgúndia, o nome medieval.)

 

[Texto 6168]

«Coroa/coroa»

Simplicíssimo, mas...

 

   «Sentira-se um pouco dilentante entre aquelas mulheres activas, corajosas e determinadas que haviam desafiado maridos indignados, pais estupefactos, vizinhos malévolos, para virem ali, àquela escola londrina, dizer umas às outras que era urgente continuar a luta pelo direito à escola e ao voto, pois se até a Coroa era usada por uma mulher...» (O Último Cais, Helena Marques. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 3.ª ed., 1994, pp. 155-56).

      A rainha Vitória usava coroa; a rainha Vitória era, naquela altura, a titular da Coroa. Mera convenção, decerto, mas, se não a seguirmos, pelo menos que a não subvertamos. Desculpável na autora, indesculpável no revisor.

      Coroa, vocábulo polissémico, aparece na acepção de instituição no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora como sentido figurado, «poder real; realeza; monarquia», o que não é a opção de todos os dicionários nem seria a minha.

 

[Texto 6167] 

«Polvo/pulpo/pólipo/pó»

Do pó e da tradução

 

      «Carnívoros que capturam por vezes usando veneno, o método comum para os polvos caçarem é através de um bico duro com o qual rasgam a presa. Tal como a mitológica Hidra, estes animais podem também regenerar os seus oito membros e largar ainda uma tinta escura para confundir os predadores. Se olharmos para a raiz grega do nome do animal — okto-pous —, verificamos que a designação dos tentáculos, ou braços, indica na verdade que tem oito pés» («Genoma do polvo revelado na ponta dos seus oito tentáculos, ou dos “pés”», Catarina Rocha, Público, 12.08.2015, p. 26).

   O étimo do nosso «polvo» — também do grego, pelo latim — é menos preciso, pois significa «de muitos pés». Tradutores, atenção ao falso cognato, nem sempre inferível, pois o polvo do castelhano provém do latim pulvus e é o nosso «pó», ao passo que ao nosso «polvo» corresponde o castelhano pulpo, mais próximo — como o nosso pólipo — do étimo. Derivados de pulvus temos alguns, poucos, vocábulos, como pulveráceo, «coberto de pó»; pulverescente, «que parece coberta de pó (planta)», etc.

 

[Texto 6166]