Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

«Vá, gira!»

Vá, até amanhã

 

      Viram esta consulta ao Ciberdúvidas, ontem? Como é que uma professora de Português vê ali dois imperativos? E que é isso de «forma imperativa formal e forma imperativa informal»?

   «— Vá, gira daqui, e trata de não te meteres onde não és chamado. Se eu arranjasse criada, ficavas tu sem dinheiro para o tabaco. Anda, deixa-me em paz e trata de estudar enquanto não chega o rabugento do teu pai para o almoço» (Cárcere Invisível, Francisco Costa. Lisboa: Editorial Verbo, 1972, p. 17).

   De facto, vá, neste contexto e noutros semelhantes, tem valor interjectivo, a que se não liga o verbo que se segue. Encontro abonações para este uso apenas desde finais do século XIX.

 

[Texto 6205]

Tradução: «penny»

Era a minha escolha

 

     «Era um trabalho árduo. Cada centavo era difícil de ganhar» (A Minha História com Bob, James Bowen. Tradução de Ana Lourenço. Porto: Porto Editora, 1.ª ed., reimpressão de 2015, p. 64).

     «Eking out every penny was tough.» Eu optaria por «cêntimo», até porque aqui não é o sentido coloquial.

 

[Texto 6204]

Tradução: «official»

É por causa do uniforme

 

      «A seguir, vi dois oficiais chineses fardados [two uniformed Chinese officials], com máscaras» (A Minha História com Bob, James Bowen. Tradução de Ana Lourenço. Porto: Porto Editora, 1.ª ed., reimpressão de 2015, p. 166).

   Seriam mesmo oficiais? Não serão «funcionários»? Na mesma página, umas linhas à frente, já um official foi traduzido por «funcionário». Terá sido o uniforme a induzir em erro?

 

[Texto 6203]

Ortografia: «Anticristo»

Respeitinho

 

      «Em Covent Garden, eu era o anticristo, uma figura quase odiada» (A Minha História com Bob, James Bowen. Tradução de Ana Lourenço. Porto: Porto Editora, 1.ª ed., reimpressão de 2015, p. 149).

    Ana Lourenço, neste preciso ponto, devia ter seguido o original: é Anticristo (Antichrist), com maiúscula.

 

[Texto 6202]

Tradução: «or else»

Senão, ou, ou então

 

    «Assustara inclusive algumas mulheres, aproximando-se delas e dizendo: “Vamos lá, querida, compra um jornal.” Era quase como se estivesse a ameaçá-las: “Compra um, se não...”» (A Minha História com Bob, James Bowen. Tradução de Ana Lourenço. Porto: Porto Editora, 1.ª ed., reimpressão de 2015, p. 139). Ai sim? E se for com o verbo «pagar», por exemplo? «Hoje, ou V. S.ª me paga, ou eu vou pedir a sua mãe, ou tia, ou que diabo é, que me pague, senão mando-lhe a casa o meirinho» (Purgatório e Paraíso, Camilo Castelo Branco).

 

[Texto 6201]

Tradução: «bedbug»

Lectulārius

 

      Dantes, o vinho também servia, numa mistura com que se fumigava (e não «fumegava», Sra. tradutora), «for destroying bedbugs». Toda a gente sabe o que são estes bichinhos. Toda não: na edição em linha do Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora, lê-se que bedbug é o mesmo que «carrapato». Seria se este fosse sinónimo de «percevejo». O nome científico do bedbug é Cimex lectularius. Basta saber um pouco de latim, e conclui-se logo que está correcto. Têm semelhanças, isso decerto: são ambos hematófagos, por exemplo. O percevejo pertence à família dos Cimicídeos; o carrapato, aos Ixodídeos ou aos Argasídeos.

 

[Texto 6200]