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Linguagista

«(Não) medir o perigo»

Só isto

 

      «Uns mostravam-se furiosos, outros contentes; havia também os que mediam o perigo maior de não acometer, deixando-se apanhar por uma sortida sem tentarem a aventura» (Heroínas Portuguesas, Rocha Martins. Lisboa: Livraria Lello, 1946, p. 25).

   Para que trago para aqui esta citação de um dos mais prolíficos escritores da primeira metade do século XX? Pois simplesmente para lembrar que temos, e é comum, a expressão (não) medir o perigo. Assim, se, por exemplo, aparecer numa obra algo como «il ne mesure pas le danger», escusamos de traduzir pobremente «não se apercebia do perigo».

 

[Texto 6214]

«O/as mais das vezes»

A maior parte das vezes

 

      «Pois, para o que acontece apenas o mais das vezes, com pressupostos compreendidos apenas grosso modo e segundo uma sua caracterização nos seus traços essenciais, basta que as conclusões a que chegarmos tenham o mesmo grau de rigor» (Ética a Nicómaco, Aristóteles. Tradução do grego de António C. Caeiro. Lisboa: Quetzal Editores, 2004, p. 21). Para mim, era assim e só assim: o mais das vezes. Por substantivação do pronome indefinido quantitativo, como ocorre com outras expressões, era a esta formulação que chegava. Tenho agora de reconhecer que, por atracção, o mais pode concordar em género e número com o substantivo ou pronome pessoal que entra na expressão. Assim: «Na Gália, [Júlio César] saqueou os santuários e os templos dos deuses, repletos de oferendas, e quando arrasou cidades, as mais das vezes foi para se apoderar dos despojos, não por represálias; por isso chegou a regurgitar de ouro, que vendeu em toda a Itália e nas províncias à razão de três mil sestércios a libra» (Os 12 Césares, Suetónio. Tradução e notas de João Gaspar Simões. Lisboa: Editorial Presença, 1963, p. 40).

 

[Texto 6213]

Léxico: «petisqueira»

Isso não é cá

 

      «A compor o certame, há ainda sete restaurantes e cinco petisqueiras com pratos típicos das várias regiões (ilhas incluídas) e um restaurante temático dedicado ao período das Descobertas e à comida tradicional da corte portuguesa» («Feira gastronómica espera que S. Pedro dê ajuda ao negócio», A. T. M., Jornal de Notícias, 29.08.2015, p. 23).

      Nunca tal vi ou ouvi. Como sinónimo de pitéu ou petisco, muito bem; na acepção de restaurante, ou certo tipo de restaurante, é brasileirismo.

 

[Texto 6212] 

Léxico: «chiripiti»

Com mel e (r)aspas

 

      «São reis o vinho, a cerveja e o “chiripiti”, bebida forte de bagaço com mel» («S. João d’Arga: uma romaria do diabo», Ana Peixoto Fernandes, Jornal de Notícias, 29.08.2015, p. 26).

      Chiripiti, bebida forte de bagaço com mel e... aspas, não é assim, Ana Peixoto Fernandes?

 

[Texto 6211]