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Linguagista

Ortografia: «Citera»

Sem silabada

 

    «Quando em dias de festa, Sagrado Coração de Jesus, Sagrado Coração de Maria, a vigilância afrouxava, as camaratas convertiam-se em caramanchéis da ilha de Citera» (Um Escritor Confessa-se, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Livraria Bertrand, 1974, p. 82).

   É a forma consagrada — e não, como se lê demasiadas vezes, «Cítera» —, mas incorrecta; correcto, em português, seria Citeros, do latim Cythēra, -orum. Como correcto é Pompeios e não Pompeia, mas a língua é o que é e não o que queremos que seja. Como a vida. Camões usou a grafia Citere.

 

[Texto 6221]

Imperativo afirmativo: «dize/diz»

Dize-tu-direi-eu

 

      «Ui! o fascista Pereira Fontes! Dize-me os amigos que tens dir-te-ei quem és...» (Viver com os Outros, Isabel da Nóbrega. Lisboa: Prelo, 1972, p. 18). «Dize lá, Miguel!» (idem, ibidem, p. 67). «Dize lá, dize lá!» (idem, ibidem, p. 92).

      Viver com os Outros, embora escrito em 1960, foi publicado em 1964. A edição que cito é de 1972. Nesta altura, ainda se sentia que a 2.ª pessoa do singular do imperativo afirmativo do verbo «dizer» era dize. Mais tarde, veio a admitir-se a dualidade morfológica dize/diz. Actualmente, raríssimos serão os falantes que usam a forma «dize» (e «faze», «traze», etc.). Temos de estar com o tempo e a sensibilidade de cada época. É assim que, na reedição da obra-prima Os Maias que preparei para a Guerra & Paz, que sairá por estes dias, repus — sim, repus, porque outras edições modernas fizeram o contrário, uma infidelidade, a meu ver, desnecessária — estas formas, porque são uma marca do tempo, da época em que foram escritos. «– Dize-lhe que já o adoro – murmurava ela curvada sobre a escrivaninha acariciando os cabelos de Pedro. – Dize-lhe que se tiver um pequeno lhe hei-de pôr o nome dele... Escreve-lhe uma carta bonita, hein!» (p. 36).

 

[Texto 6220]