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Linguagista

Objecto pleonástico

Mas não leva

 

    «– Modéstia aparte, tenho uma boa mão para a cozinha», disse a cozinheira. Talvez, mas o autor não distingue «à parte» de «aparte». Por isso o texto está no estaleiro, na revisão. E as telenovelas, por exemplo? Claro que, sinal do idiolecto de cabeleireira arrivista, a personagem Pilar Sacramento da telenovela A Única Mulher pode dizer em todos os episódios que este e aquele não «fazem noção». Pior mesmo, contudo — e em quantas cabecinhas não ficará! —, é a personagem Neuza soltar um sonoro «haverão» no sentido de «existirão». Se até os jornais prescindem de revisores, quanto mais as televisões. Palavras, leva-as o vento, não é?*

 

[Texto 6243]

 

 

   * E não assim: «Palavras leva-as o vento, sabe-se» (Contra a Corrente, Manuel Alegre. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997, p. 15). Culpa da revisora, excepto se fez a emenda e o poeta a recusou. É o chamado objecto pleonástico, que obriga à vírgula.

‘Tão a ver?

Só para eles

 

      «— A mãe esteve ali. ‘Tás a ver? E tu também!» (Marilyn à Beira-Mar, Vicente Alves do Ó. Alfragide: Oficina do Livro, 2012, p. 308).

   E para que serve isto? Ora, porque eu sei que grandes sabichões julgam que, mesmo a iniciar período, o apóstrofo obriga a usar minúscula, ‘tão a ver?

 

[Texto 6242]

Estes títulos...

Não se conquistam leitores assim

 

      Não resisto a trazer para aqui este título do jornal Público, na última página da edição de hoje: «Porque síndrome do ‘homem de pedra’ tem osso a mais?» Podem não ter revisores, mas pelo menos quem escreve deve reler uma vez. É o mínimo. Descuido é uma vez, não todos os dias.

 

[Texto 6241]