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Linguagista

É a. C. e d. C.

Público e notório

 

    «“São as circunstâncias que governam os homens, não os homens que governam as circunstâncias” Heródoto (-484/-425), historiador da Grécia Antiga» (Público, 17.09.2015, p. 48).

   Nunca tal tinha visto — e com sorte não volto a ver. Que é aquilo, números negativos? Sempre se escreveu a. C. e d. C. O historiador grego Heródoto nasceu em Halicarnasso, na Ásia Menor, por volta de 484 a. C., e morreu em Túrio cerca de 425 a. C.

 

[Texto 6255]

Léxico: «homem-lige»

Vai-se tornando impossível

 

      «O certo é que ele [D. Carlos] arvorou João Franco em seu homem-lige, com todos os foros» (Um Escritor Confessa-se, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Livraria Bertrand, 1974, p. 335).

    Aquilino usou-o em várias obras. Está ausente de quase todos os dicionários. Aliás, é mais uma para juntar aos milhares de palavras proscritas. Não se fica a saber se os dicionaristas as desconhecem, se querem que nós as desconheçamos. Era a designação que antigamente, na Idade Média, se dava àquele que devia certa prestação de serviço ao senhor.

 

[Texto 6252]

«Sozinho», adjectivo graduável

Para lá da teoria

 

      «— Quem, eu? Sozinhíssimo. Eu não conheço ninguém em Lisboa» (Um Escritor Confessa-se, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Livraria Bertrand, 1974, p. 281).

      Ao primeiro conspecto, afigura-se-nos adjectivo não graduável, pois quem está sozinho não o está mais ou menos, muito ou pouco. Mas não é assim. Na oralidade, é comum ouvir-se — sobretudo a viúvas, pois por cada sete mulheres viúvas há apenas três homens viúvos — dizer «estou muito sozinho», superlativo absoluto analítico. Como superlativo absoluto sintético também há exemplos, como este de Aquilino, mas não apenas: «Que diabo: estou aqui sozinhíssimo e a minha mulher nem se manifesta!» (D’este Viver aqui Neste Papel Descripto: Cartas da Guerra, António Lobo Antunes. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2005, p. 35). «Os vinte mártires tinham desertado na estação seguinte, e o sargento fora obrigado a voltar sozinhíssimo com armas e bagagens» (Os Filhos da Candinha, Mário de Andrade. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1976, p. 132).

 

[Texto 6251]

Tradução: «condition»

Não está em condições

 

      «O que faria se de repente começasse a ter alergia ao wi-fi? Ou ao telemóvel, ao tablet e ao contador inteligente? Talvez o mesmo que Marine Richard, uma francesa de 39 anos que na semana passada ganhou um processo em tribunal por ser “alérgica” à radiação eletromagnética de vários gadgets. O juiz concluiu que ela tem direito a um subsídio de 800 euros por mês durante os próximos três anos devido a esta condição, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) não seja clara quanto à mesma» («Alergia ao wi-fi, problemas de visão, tromboses: as novas doenças tecnológicas», Ana Rita Guerra, Diário de Notícias, 16.09.2015, p. 33).

      Ana Rita Guerra, acha mesmo necessário usar o anglicismo semântico «condição»? Acaso «doença» ou «problema de saúde» não o traduzem bem? Se o jornal tivesse revisores, o artigo não saía assim.

 

[Texto 6250]

Tradução: «trustee»

Como se fosse necessário

 

      «“Tal como outras condições provocadas pelo ambiente, esta decisão abre um precedente para que estas pessoas não sejam excluídas do resto da sociedade sem meios para manter alguma dignidade”, diz ao DN Michael Bevington, trustee da organização sem fins lucrativos ElectroSensitivity UK (ES-UK)» («Alergia ao wi-fi, problemas de visão, tromboses: as novas doenças tecnológicas», Ana Rita Guerra, Diário de Notícias, 16.09.2015, p. 33).

    Ana Rita Guerra, acha necessário usar o termo inglês «trustee»? Acaso «administrador» não o traduz bem? Se o jornal tivesse revisores, o artigo não saía assim.

 

[Texto 6249]