Para lá da teoria
«— Quem, eu? Sozinhíssimo. Eu não conheço ninguém em Lisboa» (Um Escritor Confessa-se, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Livraria Bertrand, 1974, p. 281).
Ao primeiro conspecto, afigura-se-nos adjectivo não graduável, pois quem está sozinho não o está mais ou menos, muito ou pouco. Mas não é assim. Na oralidade, é comum ouvir-se — sobretudo a viúvas, pois por cada sete mulheres viúvas há apenas três homens viúvos — dizer «estou muito sozinho», superlativo absoluto analítico. Como superlativo absoluto sintético também há exemplos, como este de Aquilino, mas não apenas: «Que diabo: estou aqui sozinhíssimo e a minha mulher nem se manifesta!» (D’este Viver aqui Neste Papel Descripto: Cartas da Guerra, António Lobo Antunes. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2005, p. 35). «Os vinte mártires tinham desertado na estação seguinte, e o sargento fora obrigado a voltar sozinhíssimo com armas e bagagens» (Os Filhos da Candinha, Mário de Andrade. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1976, p. 132).
[Texto 6251]