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Linguagista

E os erros factuais?

Para lá da gramática

 

      «O fumo branco subiu aos céus às 18h:06m (hora portuguesa) do dia 13 de março de 2014» (Papa Francisco, As Lições de Liderança, Arménio Rego e Miguel Pina e Cunha. Lisboa: Edições Sílabo, 2015, p. 75).

      Os revisores também corrigem erros factuais, e neste caso alguém se esqueceu disso. Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa no dia 13 de Março, sim, mas de 2013. Se não for pecado, é erro. E que maneira abstrusa é aquela de indicar o tempo? Ou assim — 18h06 —, ou assim — 18:06.

 

[Texto 6278]

Locução prepositiva: «defronte de»

Duas ou mais palavras

 

   «Estamos, pois, defronte uma figura carismática e controversa, suscitadora de amores e ódios» (Papa Francisco, As Lições de Liderança, Arménio Rego e Miguel Pina e Cunha. Lisboa: Edições Sílabo, 2015, p. 83).

     Está errado, pois trata-se de uma locução prepositiva: com o advérbio defronte usa-se a preposição de — defronte de (Menos correcto, mas mais usado, é com a preposição a.) «Recobrando o alento, viu defronte de si uma criada, que lhe dizia banais e frias expressões de alívio» (Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco).

 

[Texto 6277]

«Dar missa»

Dizer, celebrar, dar

 

      «O papa deu missa na Catedral dos Santos Pedro e Paulo [Filadélfia], onde falou do que deve ser o papel da Igreja» (Márcia Rodrigues, Telejornal, RTP1, 26.09.2015). Logo ao meu lado se comentou que não se usa o verbo dar nesta locução, mas sim «dizer» ou «celebrar». Não é assim. É pouco usado, em especial na escrita, mas usa-se: «Quando apareceu de manhã para dar missa, ninguém pareceu pensar, O Irmão Reconciliado está mais baixo. Ninguém tropeçou nele ao longo do dia. Ninguém lhe faltou ao respeito. Olharam um bocadinho mais para baixo quando falavam, mas nada que se notasse na voz» (O Conto da Gazela, Catarina Fonseca. Lisboa: Editorial Caminho, 2003, p. 82). (A primeira frase da abonação redigi-la-ia de outra forma: «Quando apareceu de manhã para dar missa, ninguém pareceu pensar que o Irmão Reconciliado estava mais baixo.» Por exemplo, mas há outras formas.)

 

[Texto 6276]

Pronúncia: «transesofágico»

Uma experiência ética

 

      Foi submetido a um exame ao coração por via transesofágica. Isso é mau. Mas como pronunciará a palavra a maioria dos falantes? Muitos deles — comprovei com alguns e infiro em relação a outros — pronunciarão o prefixo trans- como se fosse seguido de elemento iniciado por s, em cujo caso só se escreve um s, que, todavia, se profere como se fora dobrado — transecular (trans + secular), transubstanciação (trans + substanciação). Quem não viu já alguma vez, por exemplo, o erro «transsexual»? Contudo, em transesofágico, ao prefixo, que contém uma vogal nasalada, segue-se elemento começado por vogal, pelo que o s é intervocálico e se pronuncia z. Agora peguem aí no ser humano mais à mão e façam a experiência: escrevem a palavra «transesofágico» num papel e pedem a essa pessoa que a leia. Poderão ter alguma surpresa.

 

[Texto 6275]