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Linguagista

Sobre «disciplina»

Alguma coisa tem

 

      «Cenas deste tipo terminam muitas vezes também com adultos a berrar. Um drama, portanto. Um cocktail destas reacções automáticas é o que muitos pais entendem como “disciplina”, quando a origem da palavra nada tem a ver com castigar mas sim com “ensinar, aprender, dar instrução”, dizem os autores do livro Disciplina sem Dramas (editado pela Lua de Papel), que esta semana chegou às livrarias» («Disciplina. E se o seu filho lhe bater ou disparar um dardo para o olho da irmã?», Catarina Gomes, Público, 2.10.2015, p. 20).

      De facto, disciplina, etimologicamente, é ensino, educação. Mas são conceitos — castigo e disciplina — que, desde cedo, se relacionaram. Porque é que se diz disciplina militar? E não se fala também da disciplina na Igreja, por exemplo? E porque é que às correias para açoitar, por penitência, se dá o nome de disciplinas?

 

[Texto 6286]

De novo o imperativo «diz/dize»

Há mais de cem anos

 

      «— Tu! viste-o, Ludovina? sem repugnancia, minha filha? Que inspiração tiveste de o visitar? O coração impelia-te? era o coração? diz, diz, que eu preciso acreditar n’uma influencia divina em tua nobre alma! Não me respondes, filha! Não queres dar-me a alegria completa! Foi só por caridade, por compaixão, que o visitaste?» (O Que Fazem Mulheres, Camilo Castelo Branco. Lisboa: Parceira António Maria Pereira, 4.ª ed., 1907, p. 159).

     Edição de 1907 — e nada do imperativo «dize», mas sim «diz». Diz, diz. Ao contrário do que vimos, lembrar-se-ão, na edição de 1888 da obra-prima Os Maias. Como ainda recentemente vimos, os verbos trazer, fazer e os terminados em -uzir têm, no imperativo, esta dupla forma, com queda e sem queda do e final. Na fixação do texto, tem de se ter em conta também este aspecto.

 

[Texto 6285]