Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Léxico: «refresco»

Gente sedenta

 

   Recentemente, vimos aqui que, em Angola, «dar gasosa» é tão louvável como dar gorjeta ou tão condenável como subornar. Nenhum dicionário registava então a expressão. O Pórtico da Língua Portuguesa, porém, acolheu-o. Agora, deparei com outra expressão paralela e semelhante, moçambicana, esta: pagar um refresco. É a palavra de código local para suborno. Entra uma pessoa numa repartição pública e é gentilmente interpelada por um funcionário: «Não paga um refresco?»

 

[Texto 6332]

«Pivô», outra acepção

Senhores lexicógrafos, se faz favor

 

      «Faltavam duas horas para o Telejornal começar quando a proposta de pivô caiu na rede. […] A polémica instalava-se nas redes sociais e o pivô, que nem sequer tem Facebook — a página oficial é gerida pela editora Gradiva — mantinha-se na ignorância» («“Ó Zé, mas é um homem!», Raquel Lito, Sábado, 15.10.2015, p. 86).

      Pois é, dois pivôs em nada iguais — e os dicionários que só conhecem o pivô apresentador que estabelece a ligação com os repórteres nos programas informativos. No caso, o primeiro pivô é o texto introdutório de uma peça jornalística na televisão ou na rádio; o segundo pivô é aquele que, volta não volta, nos está a piscar o olho.

 

[Texto 6331]

«Ó Zé, mas é um homem!»

Nunca é tarde para corrigir

 

      «Esta é a versão que o próprio apresentou à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, segunda-feira, dia 12, numa reunião presencial durante a tarde, e ao Conselho Deontológico, uns dias antes — sexta-feira, por email. Para a reforçar, recorreu a uma perita em gramática, que dá aulas de Técnicas de Revisão numa universidade. Ela ter-lhe-á dado razão acerca da leitura gramatical, segundo apurou a SÁBADO» («“Ó Zé, mas é um homem!», Raquel Lito, Sábado, 15.10.2015, p. 86).

      Uma perita em gramática... Foi V., Adriana? Leitura gramatical... Só espero que JRS saiba agora o que é o género neutro.

 

[Texto 6330]

Ainda sobre «badjia»

Fizeram mal

 

      Podíamos perguntar a razão de o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOCLP) registar apenas a variante «bajia», ignorando «badjia». Podíamos — mas quem nos ia responder? Confundirão africadas com africanadas? Estou a brincar. Já o escrevi uma vez, no Assim Mesmo, que a minha sogra profere o vocábulo «chave» como se nele houvesse a africada palatal [tʃ], escrita, como no galego-português, ch, desaparecida, mas então certamente ainda não estigmatizada, na nossa língua talvez ainda no século XV.

 

[Texto 6329]

Léxico: «badjia/bajia»

Do changana

 

      «O Idrisse, que era doido por badjias, de certeza que desejaria estar diante daqueles pratos todos que de vez em quando apareciam nas revistas, mas que agora eram devorados pelas estruturas do poder popular» (Milandos de Um Sonho: a euforia dos sonhadores, Bahassan Adamodjy. Lisboa: Quetzal, 2001, p. 415).

      É o nome que os pastéis de feijão têm em Moçambique. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que regista bajia, diz que vem do changana e é o «bolo feito de feijão nhemba». Já o Vocabulário Ortográfico da mesma editora acolhe bajia e badjia. Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOCLP) apenas regista «bajia».

 

[Texto 6328]

Ortografia: «amarelo-pálido»

Está certo

 

      «Nelle Harper Lee vive numa casa amarelo-pálida em Monroeville, Alabama, a cidadezinha onde nasceu» («O mundo secreto de Harper Lee», Tanya Gold, Sábado, 15.10.2015, p. 97).

      Casa amarelo-pálida. Está certo, e não foi Tanya Gold que escreveu assim, mas um tradutor, não sabemos — por mau hábito de jornais e revistas — quem. No original está pale yellow. A flexão deste adjectivo é amarelo-pálido/amarelo-pálida; amarelo-pálidos/amarelo-pálidas. Está registado no Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOCLP).

 

[Texto 6327]