«Madama Butterfly»?
Sempre às avessas
«Já não estamos a falar da densidade emocional de Madama Butterfly, de Giacomo Puccini (1858-1924), a discutir o encontro entre dois mundos, o japonês e o americano, que se olham com estranheza ali encenados ou o “libreto simplesmente deslumbrante” escrito por Luigi Illica e Giuseppe Giacosa» («A “verdade emocional” de Madama Butterfly abre temporada no São Carlos», Mário Lopes, Público, 20.10.2015, p. 26).
Ando distraído ou a última vez que se levou à cena esta ópera ainda se chamava Madame Butterfly? Madama, má dama, má... escolha. Como aportuguesamento do francês madame, num registo mais neutro, será difícil encontrar muitas abonações. Para mim, madama sempre foi usado num registo burlesco, em meios populares, como forma de o marido se referir à mulher. Ou — atenção — como sinónimo de cortesã, prostituta de alto coturno, mas prostituta. (Ainda me lembro de o meu professor de Latim, P.e Carmo Martins, contar a história de umas senhoras que eram tão reputadas, tão reputadas, que eram reputíssimas.) Bem sei que se trata de uma gueixa (palavra que, ontem, aparecia escrita «geixa» na RTP1), mas nem isso justifica, nem pouco mais ou menos, o seu uso. Se lhes pedíssemos que usassem «madama», não aceitavam. Sempre às avessas.
[Texto 6340]