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Linguagista

«Efeito surpresa»

Tudo por 2,20 euros

 

    «Os investigadores consideraram que esse telefonema [para Sócrates] estragou o efeito-surpresa da investigação» («Casa de Paris resolve investigação», Carlos Diogo Santos, Sol, 23.10.2015, p. 14).

      Acha que sim? E o efeito estufa, o efeito Joule, o efeito placebo, o efeito Doppler..., também têm hífen para se aguentarem de pé? Pobres leitores, sempre a desaprenderem.

 

[Texto 6354]

Estes modismos...

Nada de novo debaixo do Sol

 

      «A jornalista Fernanda Câncio colocou uma ação judicial contra o SOL, o i, o Correio da Manhã, as revistas Sábado e Flash! e a CMTV para que sejam impedidos de publicar factos da investigação da Operação Marquês que a envolvam e que considera privados, derivados do seu “relacionamento pessoal com José Sócrates”» («Livro de Sócrates escrito por professor de Lisboa», Ana Paula Azevedo, Sol, 23.10.2015, p. 15).

      Ana Paula Azevedo tem mesmo a certeza que é assim que se diz, «colocar uma acção»? Sim, no jornalismo «de referência» é agora também desta maneira que escrevem.

 

[Texto 6353]

Tradução: «memóire»

Hé bien!

 

      «Apesar de ter então afirmado, numa entrevista ao Expresso, que a obra era tradução para português do original em língua francesa do memóire de mestrado em Ciência Política, Sócrates não tinha em seu poder uma única cópia do produto desse esforço intelectual que fizera em Paris» («Livro de Sócrates escrito por professor de Lisboa», Felícia Cabrita, Sol, 23.10.2015, p. 12).
     Está-se mesmo a ver que Felícia Cabrita ouve e lê todos os dias «memóire de mestrado». Pobres leitores. Então em português não é «dissertação» que se diz?

 

[Texto 6352]

Pelo menos, coerência

Bem ou mal, mas sempre igual

 

      «José Sócrates já vivia desde 2011 na capital francesa, tendo a investigação apurado que a sua primeira morada foi na Avenida Coronel Bonnet — um apartamento arrendado com recurso ao dinheiro do empréstimo que contraíra na CGD, no valor de 120 mil euros. […] No início de janeiro de 2014, muda tudo. Sofia Fava decide alugar um apartamento para si e para o filho de ambos e um outro para o filho de Silva Pereira» («Casa de Paris resolve investigação», Carlos Diogo Santos, Sol, 23.10.2015, p. 13).

 

[Texto 6351]

Coerência, pelo menos

Assim não

 

      «Só o MRPP, ao sanear o mal-sucedido timoneiro (que não cedendo à nova vaga continuou a pedir morte aos traidores), lembrou os métodos de alguma esquerda radical que agora quer passar por libertária» («Frentes populares», Jaime Nogueira Pinto, Sol, 23.10.2015, p. 37). «O ‘special one’ dos socialistas é Ricardo Mourinho Félix, que acha “normal” que a imprensa lhe esteja a dar atenção por ser filho do irmão de Félix Mourinho, antigo guarda-redes do Vitória de Setúbal e pai do truculento e bem sucedido atual treinador do Chelsea» («Deputado ‘special one’», Maria Teresa Oliveira, Sol, 23.10.2015, p. 9).

    «Mal-sucedido», mas «bem sucedido», e logo na mesma edição do jornal? Vejam lá isso. Temos aí erro e incoerência. Ou escrevem malsucedido e bem-sucedido (como «malnascido» e «bem-nascido»), ou escrevem mal sucedido e bem sucedido.

 

[Texto 6350]

Como se escreve por aí

Foram os que foram

 

      «Os socialistas alemães de Weimar foram os que foram mais longe, quando se aliaram aos corpos francos para liquidarem os spartakistas; na Rússia, os bolcheviques foram acabando com todas as outras esquerdas e as frentes populares de 1936, a espanhola e a francesa, também acabaram por se desfazer» («Frentes populares», Jaime Nogueira Pinto, Sol, 23.10.2015, p. 37).

    Foram os que foram... Não está, nem de perto nem de longe, à altura da fama do autor, Jaime Nogueira Pinto. Escrever e depois reler.

 

[Texto 6349]

Léxico: «lagarteiro»

É para rever

 

      Se consultarmos o verbete do vocábulo «lagarteiro» no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que vemos? Que remete para «peneireiro», e, concretamente, para a ave de rapina. Para mim, devia ainda registar a acepção, que vem dos nossos primeiros dicionários, de «manhoso, doloso». É que podem estar a ler o Auto do Dia do Juízo e precisar de certezas. Ainda hoje, os dicionários de galego registam este sentido: «Que actúa con astucia ou mesmo con malicia, para beneficiarse ou tirar partido de algo» (Dicionário da Real Academia Galega). E não só: um pouco por todo o lado, ao tractor de lagartas dá-se o nome de «lagarteiro». Podem os dicionários passar ao lado?

 

[Texto 6348]