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Linguagista

Sobre o aposto

Maria, onde puseste o aposto?

 

      Já sei que há por aí professores que têm dúvidas sobre esta questão. Diga-se já: não faz parte do conceito de aposto a sua posição, pré-nominal ou pós-nominal. «Segundo a gramática tradicional», lê-se no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, «função sintáctica equivalente à de modificador apositivo do nome.» Os gramáticos menos precipitados, como F. Silveira Bueno, o que dizem é que o «aposto ou continuado1, em geral, aparece entre o sujeito e o predicado» (Gramática Normativa da Língua Portuguêsa. S. Paulo: Saraiva, 1944, p. 468). Interessa a função, não o lugar na frase2. Aliás, o aposto pode às vezes referir-se, como ensinou Mário Barreto (Novíssimos Estudos da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1923, p. 143), não a um substantivo, mas ao sentido de uma oração, e também neste caso se antepõe ou pospõe.

 

[Texto 6375]

 

 

1 Vejo que, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, se diz que «continuado» é nome masculino, e remete para «aposto». Ora, o que dantes se dizia era que o aposto era o mesmo que adjectivo apositivo ou nome continuado.

 

Curiosamente, em concanim, este complemento antepõe-se ao nome a que se apõe (não estou a brincar com as palavras) e, reparem, fica sempre no nominativo, ainda que o nome receba alguma flexão. (Gramática Concani, Graciano Morais: Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 1961, p. 64) E ainda dizem que em latim é difícil...

 

«Redigir/caligrafar»

Não é tudo igual

 

  Não estou a ver José Saramago imbuído de esperanças metempsicóticas. De qualquer maneira, ainda que as tivesse, faltava que essa realidade existisse. Na sua página no Facebook, e referindo-se ao primeiro romance, Terra do Pecado, de José Saramago, o escritor José Luís Peixoto escreveu ontem: «Redigi o título na capa da nova edição do primeiro romance de José Saramago. Acabou de chegar às livrarias.» Maneira imprópria de dizer, porque JLP só nasceu vinte e sete anos depois de Saramago ter — ele sim — redigido o título, publicado em 1947. José Luís Peixoto caligrafou, manuscreveu, escreveu, vá, o título. Tão-só.

 

[Texto 6374]