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Linguagista

Léxico: «atestado de quite»

Adivinhar perigos, e evitallos...

 

      «Jorge Silva Carvalho, que há muito vinha sendo contestado dentro da maçonaria por alegadamente dar “má fama” à instituição, solicitou o “atestado de quite” em Abril de 2014, dias antes de o Tribunal de Instrução Criminal confirmar que teria de responder em juízo por alegadamente ter favorecido, através da partilha de informações classificadas, uma empresa privada — a Ongoing, onde viria a trabalhar a troco de uma remuneração mensal de 10 mil euros — enquanto ainda exercia funções na liderança do SIED» («Ex-espião deixou a loja Mozart em segredo», F. E., Sábado, 5.11.2015, p. 17).

      Saiu em segredo — mas sabe-se; entrara em segredo — e soube-se. É assim. Bom é ficarmos a saber, para quando chegar a nossa vez, que ao documento em que se concede a demissão formal da maçonaria se dá o nome de atestado de quite. (Não precisava era de aspas, F. E.; em «má fama» ainda compreendo, digamos que está a passar informação que lhe deram e com a qual não se quer comprometer.)

 

[Texto 6378]

Ainda «customizar»

«Personalizar» — sempre

 

      Gostava que fosse evidente para todos que de customize nunca se podia chegar a «costumizar». Há, no étimo inglês, alguma sequência estranha ao nosso sistema fonológico ou ortográfico que imponha aquela alteração? Não há. Logo, o aportuguesamento é simples e directo: customizar. Isto porque o vocábulo estrangeiro, tratando-se de um verbo, e verbo inglês, não foi — nem podia ser — simplesmente adoptado, como se fez com leasing, stop, sexy, etc. Também não estamos perante um decalque, como em «arranha-céus», de skyscraper, ou «luta de classes», de Klassenkampf, por exemplo.

      Entretanto, no meio de toda esta trapalhada indigna, algo de bom aconteceu: a versão em linha do Vocabulário Ortográfico da Porto Editora deixou de registar «costumizar». Estamos sempre a tempo, e com efeitos imediatos neste mundo virtual, de recuar nas nossas opções e ideias. Depois dos tropeções do Ciberdúvidas, digno, humilde e inteligente seria reconhecer que «customizar» é o único aportuguesamento possível, pois adoptá-lo de um cognato é ideia supinamente infeliz. Façam-no, e o nosso respeito será retomado.

 

[Texto 6377]