Jornalistas e fantasmas
«Um escritor-fantasma é contratado para concluir a autobiografia de Adam Lang, ex-primeiro-ministro britânico, iniciada por um outro escritor que morreu acidentalmente. Mas, o que à primeira vista parece a oportunidade de uma vida revela-se muito mais complexo e, à medida que o seu trabalho na escrita vai avançando, compreende que algo de sinistro existe em toda aquela história
e uma suspeição paira sobre a morte do seu predecessor. Filme de Roman Polanski, baseado
no livro The Ghost escrito por Robert Harris, que desenvolveu o argumento em conjunto com o realizador» («O Escritor-Fantasma [The Ghost Writer]», Público, 8.11.2015, p. 38).
Se houve apenas um antes do actual escritor-fantasma, não é o predecessor, mas sim o antecessor. Se houvesse vários, o primeiro antes do actual seria o antecessor, e todos os outros seriam predecessores, ou seja, predecessor é o que precedeu o antecessor imediato. Já Morais o explicou há mais de duzentos anos, pelo que já é tempo de os falantes — e sobretudo os jornalistas — o saberem. Quanto a «escritor-fantasma» — que ainda não aparece, nem sequer no verbete «escritor» dos nossos dicionários, quando é uma realidade cada vez mais presente —, põem-se duas questões: uso do hífen e o plural. O Manual de Português da Abril (2012, p. 83), e de um manual esperamos sempre que seja prescritivo, diz isto de «fantasma»: «Quando empregado como adjetivo, liga-se ou não com hífen ao termo anterior: navio(-)fantasma (plural: navios(-)fantasmas ou navios(-)fantasma); hospital(-)fantasma (hospitais(-)fantasmas ou hospitais(-)fantasma).» Esperemos pela opção dos lexicógrafos.
[Texto 6381]