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Linguagista

Léxico: «machucho»

Ah, a origem

 

      «À hora a que escrevo, a página oficial da Presidência da República informa-nos de que: “Presidente Cavaco Silva observou unidade de aquicultura da IlhaPeixe”, “Presidente visitou em Câmara 
de Lobos nova unidade produtiva da Vinhos Barbeito”, “Presidente inaugurou no Funchal Design Centre Nini Andrade Silva”. Consta que também houve divertidas considerações sobre o tamanho da banana da Madeira. Isto é esquisito? Sim, há que admitir que é um pouco esquisito. Não querendo eu desmerecer
a machucha importância da Sétima Jornada do Roteiro para uma Economia Dinâmica, assim de repente lembro-me de um ou dois assuntos mais urgentes para Cavaco tratar» («As exigências de Cavaco Silva», João Miguel Tavares, Público, 19.11.2015, p. 48).

    Machucha importância: também assim escreveu o P.e José Agostinho de Macedo na obra Os Burros. O Dicionário Houaiss diz que tem origem controversa; para Constâncio e para o Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora, tem origem no castelhano; para D. Francisco de S. Luís, parecia vir do hebraico. José Pedro Machado não se quis comprometer. Olhem, usem-no: corpulento, grande, grosso; astucioso, finório, machacaz.

 

[Texto 6411]

Tradução: «arrondissement»

Sendo assim, ficamos como dantes

 

      No Facebook, escrevia hoje J.-M. Nobre-Correia que dizer-se, como se ouve e lê nos meios de comunicação portugueses, «bairro de Molenbeek» é um disparate. Molenbeek-Saint-Jean, que tem muitos bairros, é um município de Bruxelas.

      Também esta semana, o consultor Gonçalo Neves, do Ciberdúvidas, veio dizer que a tradução correcta de arrondissement é «freguesia», e não «bairro» («A tradução do francês arrondissement», 18.11.2015, aqui). Depois de distinguir os três tipos de arrondissement em França, afirma que apenas um deles, o arrondissement municipal, corresponde, mais ou menos, à nossa freguesia. Aqui, também tratámos desta questão, e concluímos que «bairro» seria uma boa tradução: tem a seu favor o longo uso (vale o que vale, bem sei: há muita coisa errada bem arreigada na tradição) e a correspondência com um conceito também de cariz administrativo, pois, entre nós, bairro, além da área habitacional, é a área administrativa ou fiscal. O leitor Paulo Araujo comentou então que «distrito» seria a tradução mais adequada. Ao que me parece, é a preferida — não a única — no Brasil. «Os “arrondissements” não são bairros, que em francês são os “quartiers” (pronúncia: “cartiê”). Pode haver mais de um bairro em um “arrondissement”, como pode haver mais de um “arrondissement” em um bairro» (Dez Dias em Paris: Roteiro para Brasileiros, Claudionor Aparecido Ritondale e Luciana de Oliveira F. Ritondale, 2012, p. 11).

    Uma coisa é certa: deixar por traduzir — 16e arrondissement, 14e arrondissement... —, como se vê demasiadas vezes, é uma das piores opções. Em suma, como nunca vi traduzido por «freguesia», que, de qualquer maneira, é um conceito aproximado, e «bairro» não apenas é adequado, como tem largo uso, continuarei a preferir este.

 

[Texto 6410]

Tradução: «arrestation administrative»

Convocados

 

      «Uma versão diferente tem o autarca de Molenbeek, que confirmou que foi realizada uma detenção, algo que se soube através de imagens que circularam na Internet, mas que se tratou apenas de uma identificação administrativa, ou seja, por ordem do poder executivo, e não da justiça. Nada oficial foi dito sobre as imagens» («Afinal, terrorista fugido de Paris continua a monte», TSF, 16.11.2015, aqui).

   Na imprensa belga, lê-se «arrestation administrative», e a minha pergunta é só uma: não se deve traduzir por «detenção»? Trata-se, em ambos os casos, de uma medida cautelar e de polícia. Diferirão, talvez, nas autoridades que a podem decretar. Ficam convocados os comparatistas.

 

[Texto 6409]

Tradução: «mother country»

Para sempre impensantes

 

      Aquela era, garante-nos o tradutor, «uma tentativa por parte do país-mãe de aproveitar a riqueza da América». Deve ser a nova forma de traduzir mother country... «An attempt by the mother country to tap America’s wealth». Nem, na verdade, «pátria», única correspondência registada pela versão em linha do Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora. Acrescentem: como sinónimo, país natal; como acepção diferente, metrópole. Na tradução, era esta a adequada.

 

[Texto 6408]

Tradução: «paean»

Para sempre ignorantes. Ámen

 

      Naquela altura, havia já «complex paeans». O tradutor (na verdade, tradutora), que nunca vira a palavra mais gorda, não esteve com meias-medidas: já que não conhecia a palavra, também os leitores iriam continuar na ignorância. Traduziu por... «lauda»! Pode ter consultado a versão em linha do Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora, e lá está: «(cântico) péan, peã». Débil pista, pois no Dicionário da Língua Portuguesa da mesma editora o mais próximo que encontrou foi... «peanha». Mas «lauda» é mais bonita, e foi a escolhida ou sorteada. José Pedro Machado regista péan, mas remete para a «forma preferível», peã: «na Antiguidade grega, hino em honra de Apolo; canto de guerra, de vitória, de festa». Rebelo Gonçalves é que não segue — azar de quem nasceu antes — a preferência daquele lexicógrafo, pois regista apenas «péan». (Claro que nunca mais me esquecerei daquela professora que afirmou categoricamente que em português não há palavras terminadas em n.) Os dicionários brasileiros, que não querem catequizar quanto a preferências, registam uma terceira, e estranha, variante, péã, além de indicarem o plural de «péan».

 

[Texto 6407]