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Linguagista

«Sudoeste Asiático/Sudeste Asiático»

Tomem um mapa-mundo

 

      «A biodiversidade de caracóis no Sudoeste Asiático é tão rica que Japp Jan Vermeulen, mesmo quando se dedica a outros trabalhos de investigação, nomeadamente ao estudo de orquídeas, recolhe uma amostra de solo das zonas calcárias por onde passa. Quem sabe se não estará lá um caracol novo para a ciência» («E o caracol mais pequeno do mundo tem... 0,7 milímetros e é do Bornéu», Rita Ponce, Público, 21.11.2015, p. 34).

      O Bornéu no Sudoeste Asiático?! Veja lá isso melhor, Rita Ponce. Veja lá isso melhor, Teresa Firmino, que editou o artigo. É erro, e não pequeno. O Bornéu é uma grande ilha (a segunda maior do mundo, depois da Austrália) do arquipélago indo-malaio, que fica no Sudeste Asiático. Por coincidência, na semana passada, ouvi Gonçalo Cadilhe, na Prova Oral, da Antena 3, corrigir neste mesmo sentido Fernando Alvim.

 

[Texto 6415]

Orações completivas na mesma frase, a correcção

Humildade, estudo e comedimento

 

      Talvez não devesse dizer nada — porque não quero medalhas, nem louvores, nem remuneração —, mas também não quero continuar a contribuir para que outros errem menos ou corrijam os sucessivos erros em que caem e fazem cair os que os lêem e ouvem e me paguem com coices (em mensagens privadas, pudera). Pela calada da noite, a consultora Sandra Duarte Tavares corrigiu — no sentido em que aqui eu apontei — a questão «Orações completivas na mesma frase». Parecem humildes, mas é só imagem para as câmaras. Nem uma palavra sobre terem sido corrigidos. E terão reenviado agora a resposta à consulente, Carla Cruz? Agora já é assim: «A frase que apresenta, porém, não contém duas orações completivas, mas, sim, apenas uma. Ocorre efetivamente uma oração completiva (“que façam na terra o que faz o sal””), como complemento direto da forma verbal “quer” na oração “porque quer que façam na terra o que faz o sal”, sequência que constitui uma oração subordinada adverbial causal. Contudo, a oração “(o) que faz o sal” é uma oração subordinada relativa restritiva, que tem como antecedente a forma o, que ocorre como pronome demonstrativo.»

      Que lisura de comportamento, para qualquer pessoa, mas sobretudo para uma professora universitária.

 

[Texto 6414]

 

 

Actualização às 12h30

 

Já depois deste meu texto, Sandra Duarte Tavares ou alguém por ela acrescentou esta nota: «N. E. – Devido à deteção de um lapso, do qual nos penitenciamos, esta resposta foi corrigida em 21/11/2015.» Não é apenas desse «lapso» — que lamentável falta de propriedade na linguagem! — de que se tem de penitenciar.

 

Actualização no dia 23.11.2015

 

E mesmo quanto a ser apenas uma completiva, não é líquido. Diz-me um professor de Português que não quer ser identificado: «Qualquer oração que funcione como complemento  é completiva. Assim: as duas últimas orações — «que façam» e «que faz» — completam a oração  «porque quer».

Ortografia: «(dar) azo (a)»

Quando quatro olhos vêem menos

 

    «Contudo, o email que Araújo mandou a formalizar essa disponibilidade só chegou aos servidores do Ministério Público uns dias mais tarde, já Sócrates estava preso preventivamente. A polémica do email deu aso a várias diligências feitas pelo Ministério Público junto do operador que assegura a transmissão de dados, tendo este concluído que o atraso do email se deveu a problemas na transmissão, possivelmente por ter sido enviado de Paris» («O essencial da Operação Marquês», Mariana Oliveira e Pedro Sales Dias, Público, p. 16).

   Deu aso a... Nem por serem dois viram melhor. Asar, senhores jornalistas, é guarnecer de asas e aqui a única coisa volátil é o conhecimento da língua, e, em especial, da ortografia. Dar azo a, assim se ortografa, é fazer (com) que algo aconteça, ocasionar. É uma das muitas palavras que nos vieram do provençal; neste caso, de aize. O nosso «azo» tem o mesmo étimo do italiano agio, que significa oportunidade. Tem outros sentidos, mas este é central, e, como falta no Dicionário de Italiano-Português da Porto Editora, têm de rever este verbete. No sentido de «comodidade», que aquele dicionário regista, corresponde ao francês aise, e todos encontram a sua raiz etimológica no latino adiăcens, particípio presente de adiaceo, «jazer perto». Dar azo é isto mesmo, dar oportunidade de outra coisa ficar ao lado, coexistir.

 

[Texto 6413]