Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Neologismos de palavra/neologismos de sentido

Desgrava!

 

      O Ciberdúvidas anunciava uma «conversa», no programa Língua de Todos, com Sandra Duarte Tavares sobre a diferença entre neologismos, estrangeirismos e empréstimos, «que também tece considerações sobre o uso da vírgula no texto escrito». Vá lá, não quiseram inovar a ponto de debater o uso da vírgula na oralidade. Uma amostra. Sobre neologismos: «As palavras “televisão”, “foguete”, “foguetão”, por exemplo, são palavras criadas no século XX para designar novas realidades» (Língua de Todos, 20.11.2015). Péssimos exemplos, os dois últimos. E péssimos porque são neologismos de sentido ou semânticos e não neologismos de palavra, isto é, não se trata de palavras novas criadas para designar uma nova realidade, como «televisão», por exemplo, mas antes palavras que já existiam e vieram designar novas realidades. Mas péssimos ainda por outra razão: mesmo nessa acepção — consultem-se os primeiros registos dicionarísticos —, são palavras do século XIX e não do século XX. Sobre pontuação: «A vírgula, como sabemos, marca uma pausa breve e pode ser usada numa só oração, ou seja, numa só frase, ou entre frases diferentes.» Não devemos usar assim à toa os termos «oração» e «frase», e isto porque a frase pode ser simples e complexa, e os ouvintes menos preparados não vão perceber.

 

[Texto 6420]

«Fingir-se morto»

Mortem simulare

 

      «Hughes, vocalista e guitarrista dos Eagles of Death Metal, detalhou assim um dos aspectos até agora desconhecidos do ataque terrorista ao Bataclan, onde 89 pessoas morreram. “As pessoas fingiam-se de mortas e estavam com tanto medo... Muitos morreram porque não quiseram deixar os seus amigos. Tantas pessoas se puseram à frente de pessoas” para as proteger, recorda» («Mataram todos menos um», Joana Amaral Cardoso, Público, 23.11.2015, p. 4).

      Para quê a preposição? Até nos dicionários se lê fingir-se morto. No de José da Fonseca, por exemplo, em que a faire le mort faz equivaler «fingir-se morto»; em Morais. Em castelhano, que regista a expressão equivalente hacer la mortecina, também se diz fingirse muerto. Não inventem.

 

[Texto 6419]

Léxico: «tuquetuqueiro»

Gostava de ver isso

 

      O condutor de táxi é o taxista; o condutor de bicicleta é o ciclista; o condutor de riquexó é o..., é o... Pois é, não temos palavra, tão-somente porque é uma realidade distante da nossa. Mas quanto aos tuque-tuques, que também nos eram estranhos, agora já temos: «Os tuquetuqueiros com que a RTP se cruzou estão felizes por finalmente existirem regras e mais de 100 lugares para os 250 tuk tuk que circulam pelas sete colinas de Lisboa» (Patrícia Cadete, Telejornal, RTP1, 22.11.2015). Gostava era de saber como é que estes jornalistas — com boa parte deles a escrever «tuk tuk», sem hífen nem marca de plural, num desconhecimento ignaro da língua — escrevem o neologismo. Lá falar falam eles.

 

[Texto 6418]