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Linguagista

«Pedir a morte»

Pedir como Vieira

 

      Sofria muito e «pedia para morrer». E a quem se pede licença para morrer? A Deus, com certeza. Em português escorreito, porém, não é assim que se diz, nem «pedia que morresse», por equívoco. Regressemos ao P.e António Vieira, que, num dos sermões, falando de Elias, escreve que «acabou de conhecer quanto melhor lhe era o morrer que o viver, e por isso despedindo-se da vida, pedia a morte: Tolle animam meam». Simples: pedia a morte.

 

[Texto 6436]

«Convalescença/convalescência»

Cada vez menos palavras

 

      Num desses livros perfeitamente dispensáveis que agora pululam por aí, em que se atribui, antipedagogicamente, tanto realce ao erro como à correcção, lê-se, na coluna do certo, «convalescença»; na coluna do errado, «convalescência». Lamentável é os dicionários acompanharem — e, ao mesmo tempo, originarem — este empobrecimento.

    «Ainda eu me encontrava em convalescência quando se deu um incidente que não esqueci» (A Noite e o Riso, Nuno Bragança. Lisboa: Moraes Editores, 1971, p. 24).

 

[Texto 6435]

«Mayor», outra vez!

Viva Costa, abaixo o mayor!

 

      O Times of India rejubila com a nomeação de Costa. O Público, como homenagem, passa a usar mais palavras em inglês: «“Talvez inevitavelmente”, reflecte o jornal indiano, “o mayor lisboeta começou a ser tratado por Gandhi pelos seus concidadãos” — sinal da sua “calma suprema, característica reconhecida dos goeses”» («“Viva Costa”, rejubila o The Times of India», Francisco Soares Graça, APF/Público, 27.11.2015, p. 5).

 

[Texto 6434]

Ortografia: «neojiadista»

Vasos comunicantes

 

      «Evocam Alá a cada frase, mas para os neo-jihadistas, como aqueles que atacaram Paris no dia 13 de Novembro, o islão é sobretudo um pretexto que lhes permite extravasar uma revolta pessoal e uma sede de violência» («Os neo-jihadistas ou a “islamização da radicalidade”», Michel Moutot, APF/Público, 27.11.2015, p. 21).

   Há também uma certa deriva ortográfica no Público. Anteontem vimos o caso de «bairro de lata», que hoje se repete (p. 24). E que dizer deste «neo-jihadistas»? Será a ortografia um mistério impenetrável? Com compostos formados com este elemento, só se emprega hífen quando o segundo elemento começa por vogal, h, r ou s. Logo, neojiadista. Sim, sem aquele h ali no meio. Já está assim dicionarizada.

      Algo se perde muitas vezes na tradução, mas não tem de ser sempre assim. Reparem no título original: «L’islam, prétexte des “nouveaux” djihadistes». E agora o início do artigo: «Ils invoquent Allah à chaque phrase, etc.» E mais à frente: «Desprovidos de experiência militar, de formação religiosa e geralmente de competências linguísticas, 
eles definiram a ultraviolência como o seu valor acrescentado, que, pelo sadismo, evoca o filme de Stanley Kubrick A Laranja Mecânica. E aplicam-na com os talentos instintivos de comunicantes formados na era do Facebook”, continua Harling.» Será mesmo «comunicante» a palavra certa e não «comunicador»? Em francês é communicants, sim.

 

[Texto 6433]